Arquivo da categoria: Estudos

Postagens Para Redes Sociais Sobre a Lei de Deus

Ícones de várias redes sociais em uma tela de computador.

Aqui você tem uma grande oportunidade de participar da obra de Deus aqui na terra. Criamos essa seção com centenas de postagens que enaltecem a santa e eterna Lei de Deus e encoraja os cristão a obedecer à Deus enquanto há tempo. Para usar, embaixo de cada postagem tem um link para copiar a imagem e texto, basta tocar/clicar e compartilhar. Não ignore essa oportunidade que o Senhor está lhe dando.

Acessar Postagens Sobre a Lei de Deus

Apêndice 7d: Perguntas e Respostas: Virgens, Viúvas e Divorciadas

Ouvir ou baixar estudo em áudio
00:00
00:00BAIXAR

Esta página faz parte da série sobre as uniões que Deus aceita e segue a seguinte sequência:

  1. Apêndice 7a: Virgens, Viúvas e Divorciadas: As Uniões que Deus Aceita.
  2. Apêndice 7b: A Carta de Divórcio: Verdades e Mitos.
  3. Apêndice 7c: Marcos 10:11-12 e a Falsa Igualdade no Adultério.
  4. Apêndice 7d: Perguntas e Respostas: Virgens, Viúvas e Divorciadas (Esta página).

O que é o casamento, segundo a definição de Deus?

Desde o princípio, as Escrituras revelam que o casamento não é definido por cerimônias, votos ou instituições humanas, mas pelo momento em que uma mulher — seja virgem ou viúva — tem relações sexuais com um homem. Esse primeiro ato de união física é o que o próprio Deus considera como a união de duas almas em uma só carne. A Bíblia mostra consistentemente que é apenas por meio desse vínculo sexual que a mulher se torna ligada ao homem, permanecendo unida a ele até a sua morte. É sobre essa base — clara nas Escrituras — que examinamos as questões comuns sobre virgens, viúvas e mulheres divorciadas, e expomos as distorções que foram introduzidas devido à pressão da sociedade.

Aqui, reunimos algumas das dúvidas mais frequentes sobre o que a Bíblia realmente ensina a respeito de casamento, adultério e divórcio. Nosso objetivo é esclarecer, com base nas Escrituras, interpretações equivocadas que têm sido propagadas ao longo do tempo, muitas vezes em contradição direta com os mandamentos de Deus. Todas as respostas seguem a perspectiva bíblica que preserva a coerência entre Antigo e Novo Testamento.

Dúvida: E Raabe? Ela era prostituta, mas se casou e faz parte da descendência de Jesus!

“Tudo quanto havia na cidade destruíram totalmente ao fio da espada — tanto homens como mulheres, meninos como velhos, também bois, ovelhas e jumentos” (Josué 6:21). Raabe era viúva quando se juntou aos israelitas. Josué jamais teria permitido que um judeu se casasse com uma mulher gentia e que não fosse virgem, a menos que ela se convertesse e fosse viúva, só assim estaria livre para se unir a outro homem, conforme a Lei de Deus.

Dúvida: Jesus não veio para perdoar os nossos pecados?

Sim, praticamente todos os pecados são perdoados quando a alma se arrepende e procura a Jesus, incluindo o adultério. Ao ser perdoado, porém, o indivíduo terá que sair do relacionamento adúltero em que se encontra. Isto se aplica a todos os pecados: o ladrão tem que parar de roubar, o mentiroso de mentir, o profano de profanar, etc. Da mesma forma, o adúltero não pode continuar no relacionamento adúltero e esperar que o pecado do adultério não mais exista.

Enquanto o primeiro homem da mulher viver, a alma dela está unida à dele. Quando ele morre, a alma dele volta para Deus (Eclesiastes 12:7) e só então a alma da mulher está livre para se unir à alma de outro homem, caso queira (Romanos 7:3). Deus não perdoa pecados antecipadamente, apenas os já ocorridos. Se a pessoa pede perdão a Deus na igreja, é perdoada, mas naquela mesma noite se deita com alguém que não é o seu cônjuge segundo Deus, ela voltou a adulterar.

Dúvida: A Bíblia não diz àquele que se converte: “Eis que tudo se fez novo”? Isto não quer dizer que posso começar do zero?

Não. Passagens que fazem referência à nova vida da pessoa convertida dizem respeito a como Deus espera que a pessoa viva após ter os seus pecados perdoados, e não que as consequências dos seus erros foram canceladas.

Sim, o apóstolo Paulo escreveu no verso 17 de 2 Coríntios 5: “Se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas”, como conclusão do que disse dois versos antes (verso 15): “E ele morreu, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou”. Absolutamente nada a ver com Deus dando permissão à mulher para começar a sua vida amorosa do zero, como tantos líderes mundanos ensinam.

Dúvida: A Bíblia não diz que Deus não considera o tempo de ignorância?

A frase “tempo de ignorância” (Atos 17:30) foi usada por Paulo quando passava pela Grécia, dirigindo-se a um povo idólatra que nunca havia ouvido falar do Deus de Israel, da Bíblia ou de Jesus. Ninguém que está lendo este texto era ignorante destas coisas antes da sua conversão.

Além disso, esta passagem tem a ver com o arrependimento e o perdão de pecados. A Palavra nem de longe insinua que não existe perdão para o pecado do adultério. O problema é que muitos não querem apenas o perdão do adultério já cometido; eles querem também continuar no relacionamento adúltero, e isto Deus não aceita, seja homem ou mulher.

Dúvida: Por que não se fala nada dos homens? Homem não comete adultério?

Sim, o homem também comete adultério, e a punição no período bíblico era a mesma da mulher. Deus, no entanto, considera de maneira diferente como o adultério ocorre para os dois. Não existe conexão entre a virgindade masculina e a união entre casais. A mulher, e não o homem, é quem determina se um relacionamento é adultério ou não.

Segundo a Bíblia, o homem, casado ou solteiro, adultera sempre que tem relação com uma mulher que não é virgem ou viúva. Por exemplo, se um rapaz virgem de 25 anos se deita com uma jovem que não é virgem de 23 anos, o rapaz comete adultério, pois a jovem, segundo Deus, é mulher de um outro homem (Mateus 5:32; Romanos 7:3; Levítico 20:10; Deuteronômio 22:22–24).

Virgens, viúvas e mulheres não virgens na guerra
Referência Instrução
Números 31:17-18 Destruir todos os homens e as mulheres não virgens. As virgens devem ser mantidas vivas.
Juízes 21:11 Destruir todos os homens e as mulheres não virgens. As virgens devem ser mantidas vivas.
Deuteronômio 20:13-14 Destruir todos os homens adultos. As mulheres que restarem serão viúvas e virgens.

Dúvida: Então a mulher divorciada/separada não pode se casar enquanto o seu ex-marido não morrer, mas o homem não precisa esperar a sua ex-mulher morrer?

Não precisa. Pela lei de Deus, o homem que se separa da sua mulher com base bíblica (ver Mateus 5:32) pode casar-se com uma virgem ou viúva. A realidade, porém, é que, em quase todos os casos nos nossos dias, o homem se separa da sua esposa e se casa com uma mulher divorciada/separada, e ele então está em adultério, já que, para Deus, a sua nova mulher pertence a outro homem.

Dúvida: Já que o homem não comete adultério ao se casar com virgens ou viúvas, isso quer dizer que Deus aceita a poligamia hoje em dia?

Não. A poligamia não é permitida em nossos dias devido ao evangelho de Jesus e à sua aplicação mais rigorosa da Lei do Pai. A letra da Lei, dada desde a criação (τὸ γράμμα τοῦ νόμουto grámma tou nómou), estabelece que a alma de uma mulher está ligada a apenas um homem, mas não declara que a alma de um homem está ligada a apenas uma mulher. Por isso, nas Escrituras, o adultério é sempre caracterizado como um pecado contra o homem de uma mulher. Essa é a razão pela qual Deus nunca disse que os patriarcas e reis eram adúlteros, já que suas mulheres eram virgens ou viúvas quando se casaram.

Com a vinda do Messias, porém, recebemos o pleno entendimento do Espírito da Lei (τὸ πνεῦμα τοῦ νόμουto pneûma tou nómou). Jesus, como o único porta-voz vindo do céu (João 3:13; João 12:48–50; Mateus 17:5), ensinou que todos os mandamentos de Deus têm como base o amor e o bem das suas criaturas. A letra da Lei é a expressão; o Espírito da Lei é a sua essência.

No caso do adultério, ainda que a letra da Lei não proíba um homem de se relacionar com mais de uma mulher, desde que elas sejam virgens ou viúvas, o Espírito da Lei não permite tal prática. Por quê? Porque hoje isso causaria sofrimento e confusão para todos os envolvidos — e amar ao próximo como a nós mesmos é o segundo mandamento mais importante (Levítico 19:18; Mateus 22:39). No período bíblico, isso era algo culturalmente aceito e esperado; em nossos dias, é inaceitável sob todos os aspectos.

Dúvida: E se o casal separado decide voltar e restaurar o casamento, tudo bem?

Sim, o casal pode voltar desde que:

  1. O marido tenha sido, de fato, o primeiro homem da esposa, caso contrário o casamento não era válido, mesmo antes da separação.
  2. A mulher não tenha se deitado com outro homem durante o período em que esteve separada (Deuteronômio 24:1-4; Jeremias 3:1).

Essas respostas reforçam que o ensino bíblico sobre casamento e adultério é coerente e consistente do início ao fim das Escrituras. Ao seguir fielmente o que Deus determinou, evitamos distorções doutrinárias e preservamos a santidade da união estabelecida por Ele.


Apêndice 7c: Marcos 10:11-12 e a Falsa Igualdade no Adultério

Ouvir ou baixar estudo em áudio
00:00
00:00BAIXAR

Esta página faz parte da série sobre as uniões que Deus aceita e segue a seguinte sequência:

  1. Apêndice 7a: Virgens, Viúvas e Divorciadas: As Uniões que Deus Aceita.
  2. Apêndice 7b: A Carta de Divórcio: Verdades e Mitos.
  3. Apêndice 7c: Marcos 10:11-12 e a Falsa Igualdade no Adultério (Esta página).
  4. Apêndice 7d: Perguntas e Respostas: Virgens, Viúvas e Divorciadas.

O Significado de Marcos 10 na Doutrina do Divórcio

Esse artigo refuta interpretações erradas de Marcos 10:11-12, que sugerem que Jesus ensinou igualdade entre homens e mulheres no adultério ou que mulheres podiam iniciar divórcio no contexto judaico. Complementa Apêndice 7a: As Uniões que Deus Aceita.

PERGUNTA: Marcos 10:11-12 é prova de que Jesus mudou a lei de Deus sobre o divórcio?

RESPOSTA: Não é prova — nem de longe. O ponto mais importante contra a ideia de que, em Marcos 10:11–12, Jesus ensina que (1) a mulher também pode ser vítima de adultério e (2) que a mulher também pode se divorciar do marido, é o fato de que esse entendimento contradiz o ensino geral das Escrituras sobre esse tema.

Um princípio essencial na exegese teológica é que nenhuma doutrina deve ser construída com base em um único versículo. É necessário considerar todo o contexto bíblico, inclusive o que dizem outros livros e autores inspirados. Esse é um princípio fundamental para preservar a integridade doutrinária das Escrituras e impedir interpretações isoladas ou distorcidas.

Ou seja, esses dois entendimentos equivocados extraídos dessa frase em Marcos são sérios demais para que se afirme que, ali, Jesus mudou tudo o que Deus havia ensinado sobre o assunto desde os patriarcas.

Se essa fosse realmente uma nova instrução do Messias, ela deveria aparecer em outros lugares — e com mais clareza — especialmente no Sermão da Montanha, onde o tema do divórcio foi tratado. Teríamos algo como:
“Vocês ouviram o que foi dito aos antigos: o homem pode deixar sua mulher e casar com outra virgem ou viúva. Eu, porém, vos digo: se deixar sua mulher para unir-se a outra, comete adultério contra a primeira…”

Mas isso, obviamente, não existe.

Exegese de Marcos 10:11-12

Marcos 10 é altamente contextual. A passagem foi escrita em um período em que o divórcio ocorria com o mínimo de regras, podendo ser iniciado por ambos os sexos — algo muito diferente da realidade dos tempos de Moisés ou Samuel. Basta considerar o motivo pelo qual João Batista foi preso. Essa era a Palestina de Herodes, não a dos patriarcas.

Nesse período, os judeus estavam fortemente influenciados pelos costumes da sociedade greco-romana, inclusive no que diz respeito a casamentos, aparência física, autoridade feminina, etc. (Comentamos sobre isso também no estudo sobre a Lei de Deus referente ao cabelo e barba: https://aleidedeus.org/apendice-4-o-cabelo-e-a-barba-do-cristao.)

A doutrina do divórcio por qualquer motivo

A doutrina do divórcio por qualquer motivo, ensinada pelo rabino Hillel, era resultado da pressão social exercida sobre os homens judeus, que, como é natural do ser humano caído, desejavam se livrar de suas esposas para se casar com outras mais atraentes, mais jovens ou de famílias mais afluentes.

Essa mentalidade, infelizmente, continua viva até hoje, inclusive dentro das igrejas, onde homens se separam de suas esposas para se unirem a outras — quase sempre também mulheres já separadas.

Três pontos linguísticos centrais

A passagem de Marcos 10:11 possui três palavras-chave que ajudam a esclarecer o real sentido do texto:

και λεγει αυτοις Ος εαν απολυση την γυναικα αυτου και γαμηση αλλην μοιχαται ἐπ’ αὐτήν

γυναικα (gynaika)

γυναίκα é o acusativo singular de γυνή, termo que, em contextos conjugais como Marcos 10:11, designa especificamente uma mulher casada — não uma mulher em sentido genérico. Isso mostra que a resposta de Jesus está centrada na violação da aliança matrimonial, e não em novos vínculos legítimos com viúvas ou virgens.

ἐπ’ (epí)

ἐπί é uma preposição que normalmente significa “sobre”, “junto” “em cima”, “dentro”, “com”. Embora algumas traduções optem por “contra” neste versículo, essa não é a nuance mais comum de ἐπί — especialmente à luz do contexto linguístico e teológico.

Na Bíblia mais usada no mundo, a NIV (New International Version), por exemplo, das 832 ocorrências de ἐπί, apenas 35 são traduzidas como “contra”; nas demais, a ideia expressa é “sobre”, “em cima”, “dentro”, “junto”, “com”.

αὐτήν (autēn)

αὐτήν é a forma acusativa singular feminina do pronome αὐτός. Na gramática do grego bíblico (koiné) de Marcos 10:11, a palavra “αὐτήν” (autēn – ela) não especifica a qual mulher Jesus está se referindo.

A ambiguidade gramatical surge porque há dois possíveis antecedentes:

  • τὴν γυναῖκα αὐτοῦ (“sua esposa”) — a primeira mulher
  • ἄλλην (“outra [mulher]”) — a segunda mulher

Ambas estão no feminino, singular, acusativo e aparecem dentro da mesma estrutura frasal, o que torna a referência de “αὐτήν” gramaticalmente ambígua.

Tradução contextualizada

Considerando o que se lê no original, a tradução mais coerente com o contexto histórico, linguístico e doutrinário seria:

“Qualquer um que se separa da sua esposa (γυναίκα) e se casa com outra — isto é, outra γυναίκα, outra mulher que já é esposa de alguém — comete adultério sobre/dentro/em cima/junto/com (ἐπί) ela.”

A ideia é clara: o homem que deixa sua esposa legítima e se une a outra mulher que também já era esposa de outro (portanto, não virgem), comete adultério com essa nova mulher — uma alma já unida a outro homem.

O verdadeiro significado do verbo “apolýō”

Quanto à ideia de que há suporte bíblico em Marcos 10:12 para um divórcio legal por parte da mulher — e que, assim, ela poderia se casar com outro homem — trata-se de uma interpretação anacrônica, sem respaldo no contexto bíblico original.

Primeiramente, porque nesse próprio verso Jesus conclui a frase dizendo que, se ela se unir a outro homem, os dois cometem adultério — exatamente como Ele afirma em Mateus 5:32. Mas, em termos linguísticos, esse equívoco nasce do verdadeiro significado do verbo traduzido como “divorciar” na maioria das Bíblias: ἀπολύω (apolýō).

A tradução como “divorciar” reflete costumes modernos, mas no período bíblico, ἀπολύω significava simplesmente: desapegar, libertar, soltar, mandar embora, entre outras ações físicas ou relacionais. No uso bíblico, ἀπολύω não carrega uma conotação jurídica — trata-se de um verbo que expressa separação, sem implicar formalidade legal.

Ou seja, Marcos 10:12 simplesmente afirma que, se uma mulher abandona seu marido e se une a outro homem enquanto o primeiro ainda está vivo, ela comete adultério — não por questões legais, mas porque rompe uma aliança ainda vigente.

Conclusão

A correta leitura de Marcos 10:11-12 preserva a coerência com todo o restante das Escrituras, que apresentam distinções entre virgens e mulheres casadas, e evita a introdução de doutrinas novas baseadas em uma única frase mal traduzida.


Apêndice 7b: A Carta de Divórcio: Verdades e Mitos

Ouvir ou baixar estudo em áudio
00:00
00:00BAIXAR

Esta página faz parte da série sobre as uniões que Deus aceita e segue a seguinte sequência:

  1. Apêndice 7a: Virgens, Viúvas e Divorciadas: As Uniões que Deus Aceita.
  2. Apêndice 7b: A Carta de Divórcio: Verdades e Mitos (Esta página).
  3. Apêndice 7c: Marcos 10:11-12 e a Falsa Igualdade no Adultério.
  4. Apêndice 7d: Perguntas e Respostas: Virgens, Viúvas e Divorciadas.

A “carta de divórcio” mencionada na Bíblia é frequentemente mal interpretada como uma autorização divina para dissolver casamentos e permitir novas uniões. Este artigo esclarece o verdadeiro significado de [סֵפֶר כְּרִיתוּת (sefer keritut) em Deuteronômio 24:1-4 e [βιβλίον ἀποστασίου (biblíon apostasíou)] em Mateus 5:31, refutando ensinos errados que sugerem que a mulher repudiada fica livre para se casar novamente. Com base nas Escrituras, mostramos que essa prática, tolerada por Moisés devido à dureza do coração humano, nunca foi um mandamento de Deus. Complementando Apêndice 7a: As Uniões que Deus Aceita, esta análise destaca que, segundo Deus, o casamento é uma união espiritual que liga a mulher ao marido até a morte dele, e a “carta de divórcio” não dissolve esse vínculo, mantendo a mulher vinculada enquanto ele viver.

PERGUNTA: O que é a carta de divórcio mencionada na Bíblia?

RESPOSTA: Que fique claro que, ao contrário do que a maioria dos líderes judeus e cristãos ensina, não existe nenhuma instrução divina sobre a tal “carta de divórcio” — e muito menos a ideia de que a mulher que a recebe esteja livre para um novo matrimônio.

Moisés menciona a “carta de divórcio” apenas como parte de uma ilustração em Deuteronômio 24:1-4, com o objetivo de conduzir ao verdadeiro mandamento contido na passagem: a proibição de o primeiro marido voltar a se deitar com sua ex-mulher caso ela tenha se deitado com outro homem (ver Jeremias 3:1). A propósito, o primeiro marido até poderia recebê-la de volta — mas não podia mais ter relações com ela, como vemos no caso de Davi e das concubinas violadas por Absalão (2 Samuel 20:3).

A principal evidência de que Moisés está apenas ilustrando uma situação é a repetição da conjunção כִּי (ki, “se”) no texto: Se um homem toma uma mulher… Se ele acha nela algo indecente [עֶרְוָה, ervah, “nudez”]… Se o segundo marido morrer… Moisés constrói um cenário possível como instrumento de retórica.

Jesus foi claro ao dizer que Moisés não proibiu o divórcio, mas isso não significa que aquela passagem seja uma autorização formal. De fato, não há nenhuma passagem em que Moisés autorize o divórcio. Ele apenas adotou uma postura passiva diante da dureza do coração do povo — um povo recém-saído de cerca de 400 anos de escravidão.

Esse entendimento equivocado de Deuteronômio 24 é muito antigo. Nos dias de Jesus, o rabino Hillel e seus seguidores também extraíram dessa passagem algo que não está lá: a ideia de que o homem pode mandar sua mulher embora por qualquer motivo. (O que “nudez” עֶרְוָה tem a ver com “qualquer motivo”?)

Jesus, então, corrigiu esses erros:

1. Ele enfatizou que πορνεία (porneía — algo indecente) é o único motivo aceitável.
2. Deixou claro que Moisés apenas tolerou o que faziam com as mulheres, por causa da dureza do coração dos homens de Israel.
3. No Sermão da Montanha, ao mencionar a “carta de divórcio” e concluir com a expressão “Eu, porém, vos digo”, Jesus proibiu o uso desse instrumento jurídico para a separação de almas (Mateus 5:31-32).

NOTA: A palavra πορνεία (porneía) no grego é o equivalente ao עֶרְוָה (ervah) no hebraico. No hebraico significava “nudez” e no grego foi ampliada para “algo indecente”. Porneía não inclui adultério [μοιχεία (moicheía)] porque no período bíblico a pena era de morte. Em Mateus 5:32, Jesus usou as duas palavras na mesma frase, indicando serem duas coisas diferentes.

 

É importante frisar que, se Moisés não ensinou nada sobre o divórcio, é porque Deus não o instruiu a fazê-lo — afinal, Moisés era fiel e dizia apenas o que ouvia de Deus.

A expressão sefer keritut, que significa literalmente “livro de separação” ou “carta de divórcio”, aparece apenas uma vez em toda a Torá — justamente em Deuteronômio 24:1-4. Ou seja, em nenhum lugar Moisés ensinou que os homens deveriam usar essa carta para mandar suas esposas embora. Isso indica que se tratava de uma prática já existente, herdada do período de cativeiro no Egito. Moisés apenas mencionou algo que já era feito, mas não o instruiu como mandamento divino. Vale lembrar que o próprio Moisés, cerca de quarenta anos antes, viveu no Egito e certamente conhecia esse tipo de instrumento jurídico.

Fora da Torá, o Tanach também usa sefer keritut apenas duas vezes — ambas de forma metafórica, referindo-se à relação entre Deus e Israel (Jeremias 3:8 e Isaías 50:1).

Nesses dois usos simbólicos não há qualquer indicação de que, por Deus ter dado uma “carta de divórcio” a Israel, a nação estaria livre para se unir a outros deuses. Pelo contrário, a traição espiritual é condenada em todo o texto. Ou seja, nem simbolicamente essa “carta de divórcio” permite uma nova união da mulher.

Jesus também nunca reconheceu essa carta como algo autorizado por Deus para legalizar a separação entre almas. As duas vezes que ela aparece nos Evangelhos são em Mateus — e uma vez no paralelo de Marcos (Marcos 10:4):

1. Mateus 19:7-8: os fariseus a mencionam, e Jesus responde que Moisés apenas permitiu (epétrepsen) o uso da carta por causa da dureza do coração deles — ou seja, não foi mandamento de Deus.
2. Mateus 5:31-32, no Sermão da Montanha, quando Jesus diz:

“Foi dito: ‘Aquele que repudiar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio’. Eu, porém, vos digo: todo aquele que repudiar sua mulher, a não ser por causa de porneía, a faz adulterar; e quem se casa com a repudiada comete adultério.”

Portanto, essa tal “carta de divórcio” nunca foi uma autorização divina, mas apenas algo tolerado por Moisés diante da dureza do povo. Nenhuma parte das Escrituras dá suporte à ideia de que, ao receber essa carta, a mulher estaria espiritualmente desligada e livre para se unir a outro homem. Essa ideia não possui respaldo na Palavra e se trata de um mito.  O ensino de Jesus, claro e direto, confirma essa verdade.


Apêndice 7a: Virgens, Viúvas e Divorciadas: As Uniões que Deus Aceita

Ouvir ou baixar estudo em áudio
00:00
00:00BAIXAR

Esta página faz parte da série sobre as uniões que Deus aceita e segue a seguinte sequência:

  1. Apêndice 7a: Virgens, Viúvas e Divorciadas: As Uniões que Deus Aceita (Esta página).
  2. Apêndice 7b: A Carta de Divórcio: Verdades e Mitos.
  3. Apêndice 7c: Marcos 10:11-12 e a Falsa Igualdade no Adultério.
  4. Apêndice 7d: Perguntas e Respostas: Virgens, Viúvas e Divorciadas.

A Origem do Casamento na Criação

É de conhecimento geral que o primeiro casamento ocorreu logo após o Criador ter feito uma fêmea [נְקֵבָה (nᵉqēvāh)] para ser companheira do primeiro ser humano, um macho [זָכָר (zākhār)]. Macho e fêmea — esses são os termos que o próprio Criador usou tanto para os animais quanto para os seres humanos (Gênesis 1:27). O relato em Gênesis diz que esse macho, criado à imagem e semelhança de Deus, observou que nenhuma das fêmeas entre as outras criaturas da terra se parecia com ele. Nenhuma lhe atraía, e ele desejou uma companheira. A expressão no original é [עֵזֶר כְּנֶגְדּוֹ (ʿēzer kᵉnegdô)], que significa “ajudadora compatível”. E o Senhor percebeu a necessidade de Adão e decidiu criar para ele uma fêmea, a versão feminina do seu corpo: “Não é bom que o homem esteja só; farei para ele uma ajudadora compatível” (Gênesis 2:18). Eva foi então feita a partir do corpo de Adão.

A Primeira União Segundo a Bíblia

Assim, a primeira união de almas aconteceu: sem cerimônia, sem votos, sem testemunhas, sem festa, sem cartório e sem oficiante. Deus simplesmente entregou a mulher ao homem, e essa foi a sua reação: “Esta, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada mulher, porque do homem foi tirada” (Gênesis 2:23). Logo adiante, lemos que Adão teve relações [יָדַע (yāḏaʿ) — conhecer, ter relação sexual] com Eva e a engravidou. Essa mesma expressão (conhecer), ligada à gravidez, é também usada depois com a união de Caim e sua mulher (Gênesis 4:17). Todas as uniões mencionadas na Bíblia consistem simplesmente de um homem tomando para si uma virgem (ou viúva) e tendo relações com ela — quase sempre usando a expressão “conhecer” ou “entrar” — o que confirma que a união de fato ocorreu. Em nenhum relato bíblico é dito que houve qualquer cerimônia, seja de caráter religioso ou civil.

Quando Ocorre a União aos Olhos de Deus?

A questão central é: quando Deus considera que houve um casamento? Existem três opções possíveis — uma bíblica e verdadeira e duas falsas e de fabricação humana.

1. A Opção Bíblica

Deus considera casados o homem e a mulher no momento em que a mulher virgem tem sua primeira relação consensual com ele. Se ela já teve outro homem, a união só pode acontecer se o anterior tiver morrido.

2. A Opção Falsa Relativista

Deus considera que a união ocorre quando o casal decidir. Ou seja, o homem ou a mulher podem ter quantos parceiros sexuais quiserem, mas apenas no dia em que os dois decidirem que o relacionamento ficou sério, talvez porque vão morar juntos, é que Deus considera os dois como uma só carne. Neste caso seria a criatura e não o Criador que decide quando a alma de um homem está ligada à alma de uma mulher. Não existe a menor base bíblica para este entendimento.

3. A Opção Falsa Mais Comum

Deus só considera que houve uma união quando ocorre uma cerimônia. Esta opção não é muito diferente da segunda, pois na prática a única coisa que mudou foi a adição de um terceiro ser humano no processo, que pode ser um juiz de paz, um funcionário do cartório, um padre, um pastor, etc. Nesta opção, o casal também pode ter tido vários parceiros sexuais no passado, mas só agora que se colocou de frente a um líder é que Deus considera que as duas almas estão unidas.

A Ausência de Cerimônias nas Festas de Casamento

Deve-se observar que a Bíblia menciona quatro festas de casamento, mas em nenhum dos relatos se menciona uma cerimônia para oficializar ou abençoar a união. Não existe ensinamento que um rito ou processo externo é necessário para que a união seja válida diante de Deus (Gênesis 29:21-28; Juízes 14:10-20; Ester 2:18; João 2:1-11). A confirmação da união ocorre quando uma virgem tem relação sexual consensual com seu primeiro homem (a consumação). A ideia de que Deus só une o casal quando os dois se apresentam diante de um líder religioso ou juiz de paz não possui qualquer respaldo nas Escrituras.

O Adultério e a Lei de Deus

Desde o início, Deus proibiu o adultério, que se refere a uma mulher ter relações com mais de um homem. Isso porque a alma da mulher só pode se unir a um homem por vez aqui na terra. Não há limite de quantos homens uma mulher pode ter durante a vida, mas cada novo relacionamento só pode ocorrer se o anterior estiver encerrado pela morte, porque só então a alma do homem retornou a Deus, de onde veio (Eclesiastes 12:7). Ou seja, ela precisa ser viúva para se unir a outro homem. Essa verdade é facilmente confirmada nas Escrituras, como quando o rei Davi mandou buscar Abigail somente depois que soube da morte de Nabal (1 Samuel 25:39-40); quando Boaz tomou Rute como esposa, porque soube que seu marido, Malom, havia morrido (Rute 4:13) e quando Judá instruiu seu segundo filho, Onã, a casar com Tamar para gerar descendentes em nome do irmão falecido (Gênesis 38:8). Ver também: Mateus 5:32; Romanos 7:3.

Homem e Mulher: Diferenças no Adultério

Algo que é claramente observável nas Escrituras é que não existe adultério contra a mulher, mas apenas contra o homem. A ideia ensinada por muitas igrejas — de que, ao se separar de uma mulher e casar com outra virgem ou viúva, o homem comete adultério contra sua ex-mulher — não tem apoio na Bíblia, mas sim nas convenções sociais.

Prova disso são os vários exemplos de servos do Senhor que passaram por múltiplos casamentos com virgens e viúvas, sem a reprovação de Deus — inclusive o exemplo de Jacó, que teve quatro esposas, das quais vieram as doze tribos de Israel e o próprio Messias. Nunca foi dito que Jacó cometia adultério com cada nova mulher.

Um outro exemplo bem conhecido foi o adultério de Davi. O profeta Natã não falou nada sobre ter havido adultério contra alguma mulher do rei quando ele teve relações com Bate-Seba (2 Samuel 12:9), mas apenas contra Urias, o seu marido. Lembrando que Davi já era casado com Mical, Abigail e Aionã (1 Samuel 25:42). Ou seja, adultério é sempre contra um homem e nunca contra uma mulher.

Alguns líderes gostam de afirmar que Deus iguala homens e mulheres em tudo, mas isso não reflete o que é observado nos quatro mil anos abrangidos pelas Escrituras. Simplesmente não existe sequer um exemplo na Bíblia em que Deus censurou um homem por ter cometido adultério contra a sua mulher.

Isso não quer dizer que o homem não comete adultério, mas que Deus considera o adultério do homem e da mulher de forma diferente. A punição bíblica era a mesma para os dois (Levítico 20:10; Deuteronômio 22:22–24), mas não há ligação entre virgindade masculina e casamento. A mulher, e não o homem, é quem determina se há adultério ou não. Segundo a Bíblia, o homem adultera sempre que tem relação com uma mulher que não é virgem ou viúva. Por exemplo, se um rapaz virgem de 25 anos se deita com uma jovem de 23 anos que já teve outro homem, ele comete adultério — pois, segundo Deus, essa jovem é mulher de outro homem (Mateus 5:32; Romanos 7:3; Números 5:12) .

O Casamento Levirato e a Preservação da Linhagem

Esse princípio da mulher só poder se unir a outro homem após a morte do primeiro também é confirmado na lei do levirato, dada por Deus para preservar os bens das famílias: “Se dois irmãos morarem juntos, e um deles morrer sem deixar filhos, a mulher do falecido não se casará com um estranho fora da família. Seu cunhado irá até ela, tomá-la por esposa e cumprirá o dever de cunhado para com ela…” (Deuteronômio 25:5-10. Ver também Gênesis 38:8; Rute 1:12-13; Mateus 22:24). Observe que essa lei deveria ser cumprida mesmo que o cunhado já tivesse outra esposa. No caso de Boaz, ele chegou a oferecer Rute a um parente mais próximo, mas o homem não quis, pois não desejava adquirir mais uma mulher e ter que dividir sua herança: “No dia em que comprares o campo da mão de Noemi, também adquirirás Rute, a moabita, mulher do falecido, para gerar filhos e ela participar da sua herança” (Rute 4:5).

A Perspectiva Bíblica sobre o Casamento

A visão bíblica do casamento, conforme apresentada nas Escrituras, é clara e distinta das tradições humanas modernas. Deus estabeleceu o casamento como uma união espiritual selada pela consumação entre um homem e uma mulher virgem ou viúva, sem a necessidade de cerimônias, oficiantes ou ritos externos.

Isso não significa que a Bíblia proíba cerimônias como parte dos casamentos, mas deve ficar claro que elas não são nem um requisito nem uma confirmação de que uma união de almas ocorreu segundo a lei de Deus.

A união é considerada válida aos olhos de Deus somente no momento da relação consensual, refletindo a ordem divina de que a mulher se una a apenas um homem por vez, até que a morte dissolva esse vínculo. A ausência de cerimônias nas festas de casamento descritas na Bíblia reforça que o foco está na aliança íntima e no propósito divino de continuidade da linhagem, não em formalidades humanas.

Conclusão

À luz de todos esses relatos e princípios bíblicos, fica evidente que a definição de casamento por Deus está fundamentada em Seu próprio desígnio, não em tradições humanas ou formalidades legais. O Criador estabeleceu o padrão desde o início: um casamento é selado aos Seus olhos quando um homem se une em relações consensuais com uma mulher que está livre para se casar — ou seja, que é virgem ou viúva. Embora cerimônias civis ou religiosas possam servir como declarações públicas, elas não têm peso para determinar se uma união é válida perante Deus. O que importa é a obediência à Sua ordem, o respeito pela santidade do vínculo matrimonial e a fidelidade aos Seus mandamentos, que permanecem imutáveis, independentemente de mudanças culturais ou opiniões humanas.


Apêndice 6: As Carnes Proibidas ao Cristão

Ouvir ou baixar estudo em áudio
00:00
00:00BAIXAR

NEM TODOS OS SERES VIVOS FORAM CRIADOS PARA SER ALIMENTO

O JARDIM DO ÉDEN: UMA DIETA À BASE DE PLANTAS

Essa verdade se torna evidente quando examinamos o início da humanidade no Jardim do Éden. Adão, o primeiro homem, recebeu a tarefa de cuidar de um jardim. Que tipo de jardim? O texto original hebraico não especifica, mas há evidências convincentes de que era um pomar:
“E o Senhor Deus plantou um jardim no Éden, ao oriente… E da terra fez o Senhor Deus brotar toda árvore agradável à vista e boa para alimento” (Gênesis 2:15).

Também lemos sobre o papel de Adão em nomear e cuidar dos animais, mas em nenhum lugar das Escrituras se sugere que eles eram “bons para alimento”, como as árvores.

O CONSUMO DE ANIMAIS NO PLANO DE DEUS

Isso não significa que comer carne seja proibido por Deus — se fosse, haveria uma instrução explícita nesse sentido em toda a Escritura. No entanto, isso nos mostra que o consumo de carne animal não fazia parte da dieta original da humanidade.

A provisão inicial de Deus para o homem parece ser inteiramente baseada em plantas, enfatizando frutas e outras formas de vegetação.

A DISTINÇÃO ENTRE ANIMAIS PUROS E IMPUROS

INTRODUZIDA NA ÉPOCA DE NOÉ

Embora Deus eventualmente tenha permitido aos seres humanos matar e comer animais, Ele estabeleceu distinções claras entre os que eram apropriados para consumo e os que não eram.

Essa distinção é sugerida pela primeira vez nas instruções dadas a Noé antes do dilúvio:
“Leve com você sete pares de cada espécie de animal puro, um macho e sua fêmea, e um par de cada espécie de animal impuro, um macho e sua fêmea” (Gênesis 7:2).

O CONHECIMENTO IMPLÍCITO SOBRE ANIMAIS PUROS

O fato de Deus não explicar a Noé como distinguir entre animais puros e impuros sugere que esse conhecimento já estava presente na humanidade, possivelmente desde a criação.

Essa diferenciação entre animais limpos e impuros reflete uma ordem e um propósito divino mais amplos, em que certas criaturas foram separadas para funções específicas dentro do equilíbrio natural e espiritual.

O SIGNIFICADO PRIMÁRIO DOS ANIMAIS PUROS

ASSOCIADOS AO SACRIFÍCIO

Com base no que ocorreu até o momento na narrativa de Gênesis, podemos assumir com segurança que, até o dilúvio, a distinção entre animais puros e impuros estava relacionada apenas à sua aceitação como sacrifícios.

A oferta de Abel, feita com os primogênitos de seu rebanho, destaca esse princípio. No texto hebraico, a expressão “primogênitos de seu rebanho” (מִבְּכֹרוֹת צֹאנוֹ) usa a palavra “rebanho” (tzon, צֹאן), que se refere tipicamente a pequenos animais domesticados, como ovelhas e cabras. Assim, é muito provável que Abel tenha oferecido um cordeiro ou um cabrito de seu rebanho (Gênesis 4:3-5).

OS SACRIFÍCIOS DE NOÉ COM ANIMAIS PUROS

Da mesma forma, quando Noé saiu da arca, ele construiu um altar e ofereceu holocaustos ao Senhor usando animais puros, que haviam sido mencionados especificamente nas instruções divinas antes do dilúvio (Gênesis 8:20; 7:2).

Esse foco inicial nos animais puros para sacrifício estabelece a base para entender seu papel único na adoração e na pureza da aliança.

Os termos hebraicos usados para descrever essas categorias — tahor (טָהוֹר) e tamei (טָמֵא) — não são arbitrários. Eles estão profundamente ligados aos conceitos de santidade e separação para o Senhor:

  • טָמֵא (Tamei)
    Significado: Impuro, contaminado.
    Uso: Refere-se à impureza ritual, moral ou física. Frequentemente associado a animais, objetos ou ações proibidas para consumo ou adoração.
    Exemplo: “Todavia, destes não comereis… são impuros (tamei) para vós” (Levítico 11:4).*
  • טָהוֹר (Tahor)
    Significado: Puro, limpo.
    Uso: Refere-se a animais, objetos ou pessoas adequadas para consumo, adoração ou atividades rituais.
    Exemplo: “Deveis fazer distinção entre o santo e o comum, e entre o impuro e o puro” (Levítico 10:10).*

Esses termos formam a base das leis dietéticas de Deus, que são detalhadas posteriormente em Levítico 11 e Deuteronômio 14. Esses capítulos listam explicitamente os animais considerados puros (permitidos para alimento) e impuros (proibidos para consumo), garantindo que o povo de Deus permaneça distinto e santo.

AS ADVERTÊNCIAS DE DEUS CONTRA O CONSUMO DE CARNES IMPURAS

Ao longo do Tanach (Antigo Testamento), Deus advertiu repetidamente Seu povo por violar Suas leis dietéticas. Vários trechos condenam especificamente o consumo de animais impuros, enfatizando que essa prática era vista como um ato de rebelião contra os mandamentos divinos:

“Um povo que continuamente Me provoca diante do Meu rosto… que come carne de porco, e em cujas panelas há caldo de carnes impuras” (Isaías 65:3-4).

“Aqueles que se consagram e se purificam para entrar nos jardins, seguindo aquele que come carne de porco, ratos e outras coisas impuras—eles encontrarão seu fim, juntamente com aquele que seguem,” declara o Senhor (Isaías 66:17).

Essas advertências demonstram que comer carne impura não era apenas uma questão dietética, mas um fracasso moral e espiritual. O ato de consumir tais alimentos estava ligado à desobediência direta às instruções de Deus. Ao se entregarem a práticas explicitamente proibidas, as pessoas demonstravam desrespeito pela santidade e pela obediência.

Uma antiga pintura de açougueiros preparando carne de acordo com as regras da Bíblia para drenar o sangue, ritual kosher.
Uma antiga pintura de açougueiros preparando carne de acordo com as regras da Bíblia para drenar o sangue de todos os animais limpos, aves e animais terrestres conforme descrito em Levítico 11.

JESUS E A CARNE IMPURA

Com a vinda de Jesus, o crescimento do cristianismo e os escritos do Novo Testamento, muitos começaram a questionar se Deus ainda se importava com a obediência às Suas leis, incluindo as regras sobre alimentos impuros. De fato, praticamente todo o mundo cristão hoje come qualquer coisa que deseja.

Entretanto, não existe nenhuma profecia no Antigo Testamento que diga que o Messias cancelaria a lei sobre carnes impuras ou qualquer outra lei de Seu Pai (como alguns argumentam). Jesus claramente obedeceu às ordenanças do Pai em tudo, inclusive nesse ponto. Se Jesus tivesse comido carne de porco, assim como sabemos que Ele comeu peixe (Lucas 24:41-43) e cordeiro (Mateus 26:17-30), teríamos um claro ensino pelo exemplo, mas sabemos que isso não aconteceu. Não há indicação de que Jesus e Seus discípulos desrespeitaram essas instruções dadas por Deus por meio dos profetas.

ARGUMENTOS REFUTADOS

FALSO ARGUMENTO: “Jesus declarou todos os alimentos puros”

A VERDADE:

Marcos 7:1-23 é frequentemente citado como prova de que Jesus aboliu as leis dietéticas sobre carnes impuras. No entanto, uma análise cuidadosa do texto revela que essa interpretação não tem fundamento. O versículo mais citado diz:
“‘Porque a comida não entra em seu coração, mas em seu estômago, e é expelida como dejeto.’ (Assim, ele declarou todos os alimentos puros)” (Marcos 7:19).

O CONTEXTO: NÃO SE TRATA DE CARNE PURA OU IMPURA

Primeiramente, o contexto dessa passagem não tem nada a ver com carnes puras e impuras, conforme estabelecido em Levítico 11. Em vez disso, trata-se de um debate entre Jesus e os fariseus sobre uma tradição judaica que não estava relacionada às leis dietéticas. Os fariseus e escribas perceberam que os discípulos de Jesus não realizavam a lavagem cerimonial das mãos antes de comer, conhecida em hebraico como netilat yadayim (נטילת ידיים). Esse ritual envolve lavar as mãos com uma bênção e ainda hoje é uma prática tradicional no judaísmo ortodoxo.

A preocupação dos fariseus não era sobre as leis alimentares de Deus, mas sobre a adesão a essa tradição humana. Eles viam o fato de os discípulos não realizarem o ritual como uma violação dos costumes, equiparando isso à impureza.

A RESPOSTA DE JESUS: O QUE IMPORTA É O CORAÇÃO

Jesus passa grande parte de Marcos 7 ensinando que o que realmente contamina uma pessoa não são práticas externas ou tradições, mas sim a condição do coração. Ele enfatiza que a impureza espiritual vem de dentro, dos pensamentos e ações pecaminosas, e não da não observância de rituais cerimoniais.

Quando Jesus explica que a comida não torna uma pessoa impura porque entra no sistema digestivo e não no coração, Ele não está falando das leis dietéticas, mas sim da tradição da lavagem das mãos. Seu foco está na pureza interna, e não em rituais externos.

UMA ANÁLISE MAIS PROFUNDA DE MARCOS 7:19

Marcos 7:19 é muitas vezes mal interpretado devido a uma nota entre parênteses inexistente no texto original que algumas versões da Bíblia inseriram, afirmando: “Assim, ele declarou todos os alimentos puros.” No texto grego, a frase real diz apenas:
“οτι ουκ εισπορευεται αυτου εις την καρδιαν αλλ εις την κοιλιαν και εις τον αφεδρωνα εκπορευεται καθαριζον παντα τα βρωματα,”
que traduzido literalmente significa:
“Porque não entra em seu coração, mas no ventre, e sai para a latrina, purificando todos os alimentos.”

Ler “sai para a latrina, purificando todos os alimentos” e traduzir como “com isso, ele declarou todos os alimentos puros” é uma tentativa grosseira de manipular o texto para se encaixar em um viés comum contra a Lei de Deus entre seminários e editores de Bíblias.

O que faz mais sentido é que Jesus está simplesmente descrevendo o processo digestivo em termos comuns da época. O sistema digestivo recebe os alimentos, extrai os nutrientes e componentes benéficos que o corpo precisa (a parte limpa) e depois expele o restante como dejeto. A frase “purificando todos os alimentos” provavelmente se refere a esse processo natural de separação dos nutrientes do que será descartado.

Portanto, não há nenhuma evidência no texto original de Marcos 7 que sugira que Jesus estava abolindo as leis sobre carnes impuras. Esse argumento é baseado em uma tradução tendenciosa e não em um ensino genuíno das Escrituras.

CONCLUSÃO SOBRE ESTE FALSO ARGUMENTO

Marcos 7:1-23 não trata da abolição das leis dietéticas de Deus, mas sim da rejeição das tradições humanas que priorizavam rituais externos em detrimento do coração. Jesus ensinou que a verdadeira impureza vem de dentro, e não da não observância da lavagem cerimonial das mãos. A alegação de que “Jesus declarou todos os alimentos puros” é uma má interpretação do texto, enraizada em preconceitos contra as leis eternas de Deus. Ao ler cuidadosamente o contexto e o idioma original, fica claro que Jesus manteve os ensinamentos da Torá e não rejeitou as leis alimentares dadas por Deus.

FALSO ARGUMENTO: “Em uma visão, Deus disse ao apóstolo Pedro que agora podemos comer a carne de qualquer animal”

A VERDADE:

Muitos citam a visão de Pedro em Atos 10 como prova de que Deus aboliu as leis dietéticas sobre animais impuros. No entanto, uma análise mais detalhada do contexto e do propósito da visão revela que ela não tinha nada a ver com mudar as regras sobre carne limpa e impura. Em vez disso, a visão foi um meio de ensinar a Pedro a aceitar os gentios no povo de Deus, e não de alterar as instruções alimentares dadas por Deus.

A VISÃO DE PEDRO E SEU PROPÓSITO

Em Atos 10, Pedro tem uma visão de um lençol descendo do céu, contendo diversos tipos de animais, tanto puros quanto impuros, acompanhada da ordem para “matar e comer”. A resposta imediata de Pedro deixa claro seu entendimento:

“De modo nenhum, Senhor! Nunca comi coisa alguma impura ou imunda” (Atos 10:14).

Essa reação é significativa por vários motivos:

  1. Pedro ainda obedecia às leis dietéticas
    Esta visão ocorre depois da ascensão de Jesus e do derramamento do Espírito Santo no Pentecostes. Se Jesus tivesse abolido as leis alimentares durante Seu ministério, Pedro, que era um de Seus discípulos mais próximos, saberia disso e não teria reagido com tanta resistência. O fato de Pedro recusar comer animais impuros demonstra que ele ainda observava as leis dietéticas e não tinha conhecimento de qualquer suposta revogação.
  2. O verdadeiro significado da visão
    A visão se repete três vezes, enfatizando sua importância, mas seu real significado é esclarecido alguns versículos depois, quando Pedro visita a casa de Cornélio, um gentio. O próprio Pedro explica o significado da visão:
    “Deus me mostrou que eu não devo chamar ninguém de impuro ou imundo” (Atos 10:28).A visão não era sobre comida, mas uma mensagem simbólica. Deus usou a imagem dos animais limpos e impuros para ensinar Pedro que as barreiras entre judeus e gentios estavam sendo removidas e que os gentios agora poderiam ser aceitos na comunidade da aliança de Deus.

INCONSISTÊNCIAS LÓGICAS COM A INTERPRETAÇÃO DE QUE “AS LEIS DIETÉTICAS FORAM ABOLIDAS”

A afirmação de que a visão de Pedro aboliu as leis alimentares ignora vários pontos críticos:

  1. A resistência inicial de Pedro
    Se as leis dietéticas já tivessem sido abolidas, a objeção de Pedro não faria sentido. Suas palavras refletem sua continuação na obediência a essas leis, mesmo após anos seguindo Jesus.
  2. Nenhuma evidência bíblica de abolição
    Em nenhum momento Atos 10 declara que as leis dietéticas foram abolidas. O foco é exclusivamente na inclusão dos gentios, e não em uma nova definição sobre o que é permitido ou proibido para consumo.
  3. O simbolismo da visão
    O propósito da visão se torna evidente na sua aplicação. Quando Pedro percebe que Deus não faz acepção de pessoas, mas aceita aqueles que O temem e praticam a justiça (Atos 10:34-35), fica claro que a visão tratava da inclusão dos gentios, e não da revogação das leis dietéticas.
  4. Contradições na interpretação cristã tradicional
    Se a visão fosse realmente sobre a abolição das leis alimentares, ela contraditaria todo o contexto do livro de Atos, onde os crentes judeus, incluindo Pedro, continuaram a observar a Torá. Além disso, a visão perderia seu significado simbólico se fosse interpretada literalmente, pois então trataria apenas das práticas alimentares e não da questão mais importante da inclusão dos gentios.

CONCLUSÃO SOBRE ESTE FALSO ARGUMENTO

A visão de Pedro em Atos 10 não tratava de comida, mas de pessoas. Deus usou a imagem de animais limpos e impuros para transmitir uma verdade espiritual mais profunda: que o evangelho era para todas as nações e que os gentios não deveriam mais ser considerados impuros ou excluídos do povo de Deus.

Interpretar essa visão como uma revogação das leis dietéticas é um erro grave que distorce tanto o contexto quanto o propósito da passagem.

As instruções dietéticas dadas por Deus em Levítico 11 permanecem inalteradas e nunca foram o foco dessa visão. As próprias ações e explicações de Pedro confirmam isso.

O verdadeiro significado da visão é sobre quebrar barreiras entre povos, e não alterar as leis eternas de Deus.

FALSO ARGUMENTO: “O Concílio de Jerusalém decidiu que os gentios poderiam comer qualquer coisa, desde que não fosse estrangulada e com sangue.”

A VERDADE:

O Concílio de Jerusalém é frequentemente mal interpretado para sugerir que os gentios receberam permissão para desconsiderar a maioria dos mandamentos de Deus e seguir apenas quatro requisitos básicos. No entanto, um exame mais atento revela que este concílio não tratava da abolição da Lei para os gentios, mas sim de facilitar sua entrada inicial nas comunidades messiânicas.

O QUE FOI O CONCÍLIO DE JERUSALÉM?

A questão principal discutida no concílio era se os gentios precisavam se comprometer integralmente com toda a Torá—incluindo a circuncisão—antes de ouvirem o evangelho e participarem das reuniões das primeiras congregações messiânicas.

Por séculos, a tradição judaica sustentava que um gentio deveria primeiro adotar todas as práticas da Torá—como a circuncisão, a guarda do sábado, as leis alimentares e outros mandamentos—antes que um judeu pudesse interagir livremente com ele (ver Mateus 10:5-6; João 4:9; Atos 10:28).

O concílio não estava decidindo quais leis os gentios deveriam ou não seguir, mas sim reconhecendo que eles poderiam começar sua jornada de fé sem adotar de imediato todas essas práticas.

QUATRO REQUISITOS INICIAIS PARA A HARMONIA

O concílio concluiu que os gentios poderiam frequentar as reuniões das congregações messiânicas, desde que evitassem quatro práticas específicas (Atos 15:20):

  1. Comida contaminada por ídolos – Evitar alimentos sacrificados a ídolos, pois a idolatria era profundamente ofensiva aos crentes judeus.
  2. Imoralidade sexual – Abster-se de pecados sexuais, que eram comuns entre os pagãos.
  3. Carne de animais estrangulados – Não consumir carne de animais que não foram abatidos corretamente, pois isso preservava o sangue.
  4. Sangue – Não ingerir sangue, uma prática proibida na Torá (Levítico 17:10-12).

Essas exigências não eram um resumo de todas as leis que os gentios deveriam seguir, mas um ponto de partida para garantir a paz e a unidade entre crentes judeus e gentios dentro das congregações.

O QUE ESSA DECISÃO NÃO SIGNIFICOU

A ideia de que esses quatro requisitos eram as únicas leis que os gentios precisavam obedecer é absurda.

  • Os gentios poderiam violar os Dez Mandamentos?
    • Poderiam adorar outros deuses, blasfemar contra Deus, roubar ou matar? Claro que não! Essa conclusão contradiz todas as Escrituras sobre a justiça de Deus.
  • O concílio estava dando um ponto de partida, não um ponto final.
    • A decisão abordava como os gentios poderiam começar sua jornada na fé, e não um conjunto definitivo de regras. Esperava-se que eles crescessem em conhecimento e obediência com o tempo.

ATOS 15:21 TRAZ A CHAVE PARA A QUESTÃO

O concílio não aboliu os mandamentos de Deus, e isso fica claro pelo que foi dito logo após a decisão:

“Porque Moisés [a Lei de Deus] tem em cada cidade, desde os tempos antigos, quem o pregue nas sinagogas, onde é lido todos os sábados.” (Atos 15:21)

Essa passagem demonstra que os gentios continuariam aprendendo a Torá ao frequentar as sinagogas. Os apóstolos nunca sugeriram que os mandamentos de Deus fossem descartados. Pelo contrário, esperava-se que os gentios aprendessem gradualmente a obedecer a Deus conforme ouvissem a Torá sendo ensinada.

CONTEXTO DOS ENSINAMENTOS DE JESUS

O próprio Jesus enfatizou a importância dos mandamentos de Deus.

Nos evangelhos, Ele ensina claramente que guardar os mandamentos faz parte da fé verdadeira:

  • “Se você quer entrar na vida, obedeça aos mandamentos.” (Mateus 19:17)
  • “Bem-aventurados aqueles que ouvem a palavra de Deus e a obedecem.” (Lucas 11:28)
  • Todo o Sermão da Montanha (Mateus 5-7) reforça a necessidade de obedecer a Deus.

Se Jesus nunca aboliu os mandamentos, os apóstolos também não poderiam ter feito isso.

CONCLUSÃO SOBRE ESTE FALSO ARGUMENTO

O Concílio de Jerusalém não decretou que os gentios poderiam comer qualquer coisa ou ignorar os mandamentos de Deus. Ele lidou com um problema prático: como os gentios poderiam começar a frequentar as congregações messiânicas sem serem sobrecarregados de imediato com todas as práticas da Torá.

As quatro exigências estabelecidas eram diretrizes iniciais para promover a harmonia entre crentes judeus e gentios em comunidades mistas.

A expectativa sempre foi que os gentios crescessem no conhecimento e na obediência com o tempo, pois a Torá continuava sendo ensinada todos os sábados.

Afirmar que Atos 15 permitiu que os gentios comessem qualquer coisa ou ignorassem os mandamentos é uma distorção da decisão do concílio e do ensino das Escrituras como um todo.

FALSO ARGUMENTO: “O apóstolo Paulo ensinou que Cristo cancelou a necessidade de obedecer às leis de Deus para a salvação.”

A VERDADE:

A maioria dos líderes cristãos interpreta incorretamente os escritos de Paulo, afirmando que ele se opôs à Lei de Deus e ensinou aos gentios que obedecer aos mandamentos era desnecessário ou até perigoso para a salvação.

Essa ideia gerou uma enorme confusão teológica, pois contradiz não apenas os profetas, mas também as próprias palavras de Jesus.

Teólogos que rejeitam essa interpretação gastam tempo tentando harmonizar as cartas de Paulo com a obediência à Lei, argumentando que suas palavras foram mal compreendidas ou retiradas do contexto.

Porém, o problema central não está na interpretação das cartas de Paulo, mas na própria suposição de que devemos considerar sua autoridade para tratar dessa questão.

POR QUE EXPLICAR PAULO É O CAMINHO ERRADO?

Muitas pessoas tentam defender Paulo afirmando que ele não contradisse Jesus nem os profetas do Antigo Testamento. No entanto, o verdadeiro problema não é o que Paulo realmente quis dizer, mas se deveríamos considerar seus ensinamentos como determinantes nessa questão.

Dedicamos esforços para tentar “interpretar corretamente Paulo”, mas isso eleva um ser humano a um status igual ou maior que os profetas e até mesmo que o próprio Jesus.

O caminho correto não é tentar justificar Paulo, mas perguntar: As Escrituras antes de Paulo predisseram ou validaram a ideia de que alguém viria após Jesus para ensinar algo que anula as leis de Deus?

Se houvesse uma profecia clara de que um homem de Tarso seria enviado para modificar ou reinterpretar a Lei, então poderíamos considerar seus ensinamentos nesse sentido como autorizados por Deus. Porém, essa profecia não existe.

A AUSÊNCIA DE PROFECIAS SOBRE PAULO

As Escrituras contêm profecias claras sobre o Messias e sobre alguns indivíduos que apareceriam no Novo Testamento, mas Paulo não é um deles.

As únicas pessoas explicitamente mencionadas ou prefiguradas no Antigo Testamento que aparecem no Novo Testamento são:

  1. João Batista – O precursor do Messias foi profetizado e confirmado por Jesus (Isaías 40:3, Malaquias 4:5-6, Mateus 11:14).
  2. Judas Iscariotes – Algumas referências indiretas aparecem em Salmos 41:9 e Salmos 69:25.
  3. José de ArimateiaIsaías 53:9 faz uma alusão indireta ao homem que providenciaria o sepultamento de Jesus.

Além desses, nenhuma profecia menciona que Deus enviaria outra pessoa para ensinar algo novo após Jesus.

Se Paulo fosse realmente um mensageiro divinamente designado para alterar a Lei de Deus, Deus certamente teria dado uma profecia clara e inequívoca sobre ele antes da sua chegada.

Porém, não há qualquer menção de alguém de Tarso recebendo autoridade para modificar a Lei ou ensinar que a obediência a Deus não era mais necessária.

O QUE JESUS PROFETIZOU QUE ACONTECERIA APÓS SUA ASCENSÃO?

Jesus fez várias profecias sobre eventos futuros, incluindo:

  • A destruição do Templo (Mateus 24:2).
  • A perseguição aos Seus discípulos (João 15:20, Mateus 10:22).
  • A pregação do Reino a todas as nações (Mateus 24:14).

Contudo, em nenhum momento Jesus mencionou que Deus enviaria um novo mestre com autoridade para modificar Seus mandamentos.

Se a vinda de Paulo com um suposto “novo entendimento” fosse parte do plano de Deus, Jesus teria profetizado isso claramente, pois um evento dessa magnitude não poderia passar despercebido.

A ausência total de profecias sobre Paulo é prova suficiente de que ele não foi enviado para mudar nada no plano de Deus.

CONCLUSÃO

A crença de que Paulo ensinou que Cristo cancelou a necessidade de obedecer às leis de Deus para a salvação é um erro grave.

Não existe nenhuma profecia no Antigo Testamento ou nos Evangelhos que mencione que Deus enviaria um novo líder para modificar a Lei ou para ensinar que a obediência não era mais necessária.

Se Deus tivesse a intenção de mudar Seu plano após a ascensão de Jesus, Ele teria profetizado essa mudança com antecedência, como fez com João Batista e com o próprio Messias.

A verdade é simples: as Escrituras que precederam Paulo não validam seus ensinamentos sobre a Lei, porque nunca foi o plano de Deus cancelá-la.

O VERDADEIRO TESTE DOS ESCRITOS DE PAULO

Isso não significa que devemos rejeitar os escritos de Paulo, nem os de Pedro, João ou Tiago. Em vez disso, devemos abordá-los com cautela, garantindo que qualquer interpretação esteja em total harmonia com as Escrituras fundamentais: a Lei e os Profetas do Antigo Testamento e os ensinamentos de Jesus nos Evangelhos.

O problema não está nos escritos em si, mas sim nas interpretações que teólogos e líderes cristãos impuseram sobre eles.

Portanto, qualquer interpretação dos ensinamentos de Paulo deve ser submetida a dois critérios essenciais:

  1. O Antigo Testamento – A Lei de Deus revelada através de Seus profetas.
  2. Os Quatro Evangelhos – As palavras e ações de Jesus, que cumpriu e ensinou a Lei.

Se uma interpretação não estiver alinhada com esses critérios, então não pode ser aceita como verdade.

CONCLUSÃO SOBRE ESTE FALSO ARGUMENTO

A alegação de que Paulo ensinou o cancelamento das leis de Deus, incluindo as instruções alimentares, não encontra suporte nas Escrituras.

Não há nenhuma profecia que anuncie tal mensagem, e o próprio Jesus confirmou a validade da Lei.

Portanto, qualquer ensino que afirme o contrário deve ser examinado à luz da Palavra imutável de Deus.

Como seguidores do Messias, devemos buscar alinhamento com o que Deus já revelou, e não confiar em interpretações que contradizem Seus mandamentos eternos.

O ENSINO DE JESUS, POR PALAVRA E EXEMPLO

O verdadeiro discípulo de Cristo modela toda a sua vida Nele.

Jesus deixou claro que, se O amamos, obedeceremos ao Pai e ao Filho (João 14:15).

Essa não é uma exigência para os fracos, mas para aqueles que têm seus olhos fixos no Reino de Deus e que estão dispostos a fazer o que for necessário para herdar a vida eternamesmo que isso traga oposição da família, dos amigos e da igreja.

Os mandamentos sobre cabelos e barba, tzitzit, circuncisão, o sábado e as carnes proibidas são ignorados por quase toda a cristandade.

Os que se recusam a seguir a multidão enfrentarão perseguição, exatamente como Jesus nos advertiu (Mateus 5:10).

Mas a obediência a Deus exige coragem—e a recompensa é a eternidade.

Quatro cascos de diferentes animais, alguns fendidos e outros sólidos. Lei bíblica sobre animais limpos e impuros.
Quatro cascos de diferentes animais, alguns fendidos e outros sólidos, ilustram a lei bíblica sobre animais limpos e impuros de acordo com Levítico 11.

AS CARNES PROIBIDAS SEGUNDO A LEI DE DEUS

As leis dietéticas de Deus, estabelecidas na Torá, definem claramente quais animais Seu povo pode comer e quais devem ser evitados. Essas instruções enfatizam santidade, obediência e separação de práticas que contaminam.

Abaixo está uma lista detalhada das carnes proibidas, com referências bíblicas.

1. ANIMAIS TERRESTRES QUE NÃO RUMINAM OU NÃO POSSUEM CASCOS FENDIDOS

  • Para serem considerados puros, os animais terrestres precisam ter ambos os critérios: ruminar e ter cascos fendidos.
  • Exemplos de Animais Proibidos:
    • Camelo (gamal, גָּמָל) – Rumina, mas não tem cascos fendidos (Levítico 11:4).
    • Cavalo (sus, סוּס) – Não rumina e não tem cascos fendidos.
    • Porco (chazir, חֲזִיר) – Tem cascos fendidos, mas não rumina (Levítico 11:7).

2. CRIATURAS AQUÁTICAS SEM BARBATANAS E ESCAMAS

  • Apenas peixes que possuem barbatanas e escamas são permitidos.
  • Exemplos de Criaturas Proibidas:
    • Bagre – Não tem escamas.
    • Frutos do mar – Inclui camarão, caranguejo, lagosta e mariscos.
    • Enguias – Não têm barbatanas nem escamas.
    • Lulas e Polvos – Não têm barbatanas nem escamas (Levítico 11:9-12).

3. AVES DE RAPINA, NECRÓFAGAS E OUTRAS AVES PROIBIDAS

  • A lei especifica certas aves que não devem ser consumidas, geralmente aquelas associadas à predação ou ao consumo de carniça.
  • Exemplos de Aves Proibidas:
    • Águia (nesher, נֶשֶׁר) (Levítico 11:13).
    • Abutre (da’ah, דַּאָה) (Levítico 11:14).
    • Corvo (orev, עֹרֵב) (Levítico 11:15).
    • Mocho, falcão, corvo-marinho e outras aves listadas (Levítico 11:16-19).

4. INSETOS VOADORES QUE SE MOVEM SOBRE QUATRO PATAS

  • Em geral, insetos voadores são impuros, exceto aqueles que possuem patas articuladas para saltar.
  • Exemplos de Insetos Proibidos:
    • Moscas, mosquitos e besouros.
    • Exceção: Gafanhotos e certos tipos de locustas são permitidos (Levítico 11:20-23).

5. ANIMAIS QUE RASTEJAM SOBRE A TERRA

  • Qualquer criatura que se arrasta sobre o ventre ou tem múltiplas patas e rasteja no solo é impura.
  • Exemplos de Criaturas Proibidas:
    • Serpentes.
    • Lagartos.
    • Ratos e toupeiras (Levítico 11:29-30, 11:41-42).

6. ANIMAIS MORTOS OU EM DECOMPOSIÇÃO

  • Mesmo os animais puros não podem ser comidos se morreram naturalmente ou foram mortos por predadores.
  • Referências: Levítico 11:39-40, Êxodo 22:31.

7. CRUZAMENTO ENTRE ESPÉCIES

  • Embora não seja diretamente uma lei dietética, o cruzamento de espécies diferentes é proibido, o que implica a necessidade de cuidado com a produção alimentar.
  • Referência: Levítico 19:19.

O PROPÓSITO DESSAS LEIS

Essas instruções demonstram o desejo de Deus de que Seu povo seja distinto, honrando-O até mesmo nas escolhas alimentares.

Ao obedecer a essas leis, os seguidores do Senhor demonstram respeito e fidelidade aos Seus mandamentos sagrados.



Apêndice 5g: Trabalho e o Sábado — Enfrentando os Desafios do Mundo Real

Esta página faz parte da série sobre o quarto mandamento: O Sábado:

  1. Apêndice 5a: O Sábado e o Dia de Ir à Igreja, Duas Coisas Diferentes
  2. Apêndice 5b: Como Guardar o Sábado nos Tempos Modernos
  3. Apêndice 5c : Aplicando os Princípios do Sábado na Vida Diária
  4. Apêndice 5d: Alimentação no Sábado — Orientação Prática
  5. Apêndice 5e: Transporte no Sábado
  6. Apêndice 5f: Tecnologia e Entretenimento no Sábado
  7. Apêndice 5g: Trabalho e o Sábado — Enfrentando os Desafios do Mundo Real (Página atual).

Por Que o Trabalho É o Maior Desafio

Para a maioria dos cristãos, o maior obstáculo para guardar o Sábado é o emprego. Alimentação, transporte e tecnologia podem ser ajustados com preparação, mas os compromissos de trabalho atingem o núcleo do sustento e da identidade de uma pessoa. No antigo Israel isso raramente era um problema porque a nação inteira parava no Sábado; comércios, tribunais e mercados estavam fechados por padrão. A quebra do Sábado em nível comunitário era incomum e muitas vezes ligada a períodos de desobediência nacional ou exílio (veja Neemias 13:15–22). Hoje, porém, a maioria de nós vive em sociedades onde o sétimo dia é um dia normal de trabalho, tornando este o mandamento mais difícil de aplicar.

Do Princípio à Prática

Ao longo desta série enfatizamos que o mandamento do Sábado faz parte da Lei santa e eterna de Deus, não é uma regra isolada. Os mesmos princípios de preparação, santidade e necessidade se aplicam aqui, mas as consequências são maiores. Escolher guardar o Sábado pode afetar renda, caminhos profissionais ou modelos de negócio. No entanto, as Escrituras apresentam consistentemente a guarda do Sábado como um teste de lealdade e confiança na provisão de Deus — uma oportunidade semanal para mostrar onde está nossa lealdade final.

Quatro Situações Comuns de Trabalho

Neste artigo vamos considerar quatro categorias principais onde surgem conflitos com o Sábado:

  1. Emprego Regular — trabalhar para outra pessoa no varejo, manufatura ou empregos similares.
  2. Trabalho Autônomo — administrar sua própria loja ou negócio em casa.
  3. Profissionais de Emergência e Saúde — policiais, bombeiros, médicos, enfermeiros, cuidadores e funções semelhantes.
  4. Serviço Militar — tanto serviço obrigatório como carreira militar.

Cada situação exige discernimento, preparação e coragem, mas o fundamento bíblico é o mesmo: “Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra, mas o sétimo dia é o Sábado do SENHOR teu Deus” (Êxodo 20:9–10).

Emprego Regular

Para cristãos em empregos regulares — varejo, manufatura, serviços ou similares — o maior desafio é que os horários de trabalho geralmente são definidos por outra pessoa. No antigo Israel esse problema praticamente não existia porque a nação inteira guardava o Sábado, mas nas economias modernas o sábado é frequentemente um dia de pico. O primeiro passo para quem guarda o Sábado é tornar suas convicções conhecidas cedo e fazer todo o possível para organizar a semana de trabalho em torno do Sábado.

Se você está procurando um novo emprego, mencione sua observância do Sábado na fase de entrevista e não no currículo. Isso evita ser descartado antes de ter a chance de explicar seu compromisso e também lhe dá oportunidade de destacar sua flexibilidade para trabalhar em outros dias. Muitos empregadores valorizam funcionários dispostos a trabalhar aos domingos ou em turnos menos desejáveis em troca de ter os sábados livres. Se você já está empregado, peça com respeito para ser dispensado das horas do Sábado, oferecendo ajustar seu horário, trabalhar em feriados ou compensar horas em outros dias.

Aborde seu empregador com honestidade e humildade, mas também firmeza. O Sábado não é uma preferência, mas um mandamento. Os empregadores têm mais probabilidade de atender a um pedido claro e respeitoso do que a um vago ou hesitante. Lembre-se de que a preparação durante a semana é sua responsabilidade — termine projetos com antecedência, deixe seu espaço de trabalho organizado e garanta que sua ausência no Sábado não sobrecarregue os colegas. Ao demonstrar integridade e confiabilidade, você fortalece seu argumento e mostra que guardar o Sábado produz — e não atrapalha — um trabalhador melhor.

Se seu empregador se recusar absolutamente a ajustar seu horário, ore e considere suas opções. Alguns guardadores do Sábado aceitaram redução de salário, mudaram de departamento ou até trocaram de carreira para obedecer ao mandamento de Deus. Embora tais decisões sejam difíceis, o Sábado foi projetado como um teste semanal de fé, confiando que a provisão de Deus é maior do que aquilo que você perde ao obedecê-Lo.

Trabalho Autônomo

Para aqueles que são autônomos — administrando um negócio em casa, prestando serviços freelancers ou uma loja física — o teste do Sábado é diferente, mas igualmente real. Em vez de um empregador definir suas horas, é você quem define, o que significa que deve intencionalmente fechar durante as horas sagradas. No antigo Israel, os comerciantes que tentavam vender no Sábado eram repreendidos (Neemias 13:15–22). O princípio ainda se aplica hoje: mesmo que os clientes esperem seus serviços no fim de semana, Deus espera que você santifique o sétimo dia.

Se você está planejando abrir um negócio, pense cuidadosamente em como isso afetará sua capacidade de guardar o Sábado. Alguns setores facilitam o fechamento no sétimo dia; outros dependem de vendas ou prazos nos fins de semana. Escolha um negócio que permita a você e seus funcionários manter o Sábado livre de trabalho. Inclua o fechamento sabático no seu plano de negócios e comunicações com clientes desde o início. Ao estabelecer expectativas cedo, você treina seus clientes a respeitarem seus limites.

Se seu negócio já funciona no Sábado, você deve fazer as mudanças necessárias para fechar no dia santo — mesmo que isso custe receita. As Escrituras alertam que lucrar com trabalho no Sábado mina a obediência tanto quanto fazer o trabalho você mesmo. Parcerias podem complicar essa questão: mesmo que um sócio incrédulo administre o negócio no Sábado, você ainda lucra com esse trabalho, e Deus não aceita esse arranjo. Para honrar a Deus, um guardador do Sábado deve se afastar de qualquer sistema em que sua renda dependa do trabalho no Sábado.

Embora essas decisões possam ser custosas, elas também criam um testemunho poderoso. Clientes e colegas verão sua integridade e consistência. Ao fechar seu negócio no Sábado, você proclama por meio de suas ações que sua confiança final está na provisão de Deus e não na produção constante.

Profissionais de Emergência e Saúde

Há um equívoco generalizado de que trabalhar como profissional de emergência ou na área de saúde é automaticamente permitido no Sábado. Essa ideia geralmente vem do fato de que Jesus curou pessoas no Sábado (veja Mateus 12:9–13; Marcos 3:1–5; Lucas 13:10–17). Mas um olhar mais atento mostra que Jesus não saía de casa no Sábado com a intenção de administrar uma “clínica de cura”. Suas curas eram atos espontâneos de misericórdia, não um padrão de carreira com trabalho agendado. Nunca houve um caso de Jesus receber pagamento pelas curas. Seu exemplo nos ensina a ajudar quem está em necessidade genuína mesmo no Sábado, mas não cancela o quarto mandamento nem torna o trabalho em saúde e emergência uma exceção permanente.

No mundo moderno raramente falta pessoal que não guarda o Sábado para ocupar esses cargos. Hospitais, clínicas e serviços de emergência funcionam 24/7, em grande parte com pessoas que não guardam o Sábado. Essa abundância remove a justificativa para um filho de Deus aceitar conscientemente um trabalho que exija labor regular no Sábado. Mesmo que pareça nobre, nenhuma vocação — mesmo uma centrada em ajudar pessoas — supera o mandamento de Deus de descansar no sétimo dia. Não podemos afirmar: “Servir pessoas é mais importante para Deus do que guardar Sua Lei”, quando o próprio Deus definiu santidade e descanso para nós.

Isso não significa que um guardador do Sábado nunca possa agir para salvar vidas ou aliviar sofrimento no Sábado. Como Jesus ensinou: “É lícito fazer o bem no Sábado” (Mateus 12:12). Se surgir uma emergência inesperada — um acidente, um vizinho doente ou uma crise em sua própria casa — você deve agir para proteger a vida e a saúde. Mas isso é muito diferente de aceitar um cargo fixo que o obrigue a trabalhar todos os Sábados. Em casos raros onde nenhuma outra pessoa está disponível, você pode se ver cobrindo temporariamente uma necessidade crítica, mas tais situações devem ser exceções, não normas, e você deve evitar cobrar por seus serviços nessas horas.

O princípio orientador é distinguir entre atos espontâneos de misericórdia e emprego regular. A misericórdia se alinha ao espírito do Sábado; trabalho pré-planejado e voltado ao lucro o enfraquece. Tanto quanto possível, cristãos na área de saúde ou emergência devem negociar escalas que respeitem o Sábado, buscar funções ou turnos que não violem o mandamento e confiar na provisão de Deus ao fazer isso.

Serviço Militar

O serviço militar apresenta um desafio único para os guardadores do Sábado porque frequentemente envolve dever obrigatório sob autoridade governamental. As Escrituras fornecem exemplos do povo de Deus enfrentando essa tensão. O exército israelita, por exemplo, marchou por sete dias ao redor de Jericó, o que significa que não descansaram no sétimo dia (Josué 6:1-5), e Neemias descreve guardas postados nos portões da cidade no Sábado para proteger sua santidade (Neemias 13:15-22). Esses exemplos mostram que, em tempos de defesa nacional ou crise, os deveres podem se estender ao Sábado — mas também destacam que tais situações eram exceções ligadas à sobrevivência coletiva, não a escolhas pessoais de carreira.

Para aqueles que são conscriptos, o ambiente não é voluntário. Você é colocado sob ordens, e sua capacidade de escolher seu horário é extremamente limitada. Nesse caso, um guardador do Sábado ainda deve fazer pedidos respeitosos aos superiores para ser dispensado do serviço no Sábado sempre que possível, explicando que o Sábado é uma convicção profundamente enraizada. Mesmo que o pedido não seja atendido, só de fazer o esforço honra a Deus e pode levar a um favor inesperado. Acima de tudo, mantenha uma atitude humilde e um testemunho consistente.

Para aqueles que consideram uma carreira militar, a situação é diferente. Uma posição de carreira é uma escolha pessoal, como qualquer outra profissão. Aceitar um cargo que você sabe que exigirá violar regularmente o Sábado é incompatível com o mandamento de mantê-lo santo. Assim como em outros campos, o princípio orientador é buscar funções ou posições onde sua observância do Sábado possa ser respeitada. Se em uma área guardar o Sábado não é possível, ore e considere outro caminho profissional, confiando que Deus abrirá portas em outras direções.

Em ambos os casos — conscrito ou voluntário — a chave é honrar a Deus onde quer que você esteja. Guarde o Sábado ao máximo possível sem rebeldia, mostrando respeito pela autoridade enquanto vive silenciosamente suas convicções. Ao fazer isso, você demonstra que sua lealdade à Lei de Deus não é condicional à conveniência, mas enraizada na fidelidade.

Conclusão: Vivendo o Sábado Como um Estilo de Vida

Com este artigo concluímos nossa série sobre o Sábado. Desde seus fundamentos na criação até sua expressão prática em alimentação, transporte, tecnologia e trabalho, vimos que o quarto mandamento não é uma regra isolada, mas um ritmo vivo tecido na Lei eterna de Deus. Guardar o Sábado é mais do que evitar certas atividades; trata-se de preparar com antecedência, cessar do labor comum e santificar tempo para Deus. Trata-se de aprender a confiar em Sua provisão, moldar sua semana em torno de Suas prioridades e refletir Seu descanso em um mundo inquieto.

Não importa suas circunstâncias — se você é empregado, autônomo, cuida da família ou serve em um ambiente complexo — o Sábado continua sendo um convite semanal para sair do ciclo de produção e entrar na liberdade da presença de Deus. Ao aplicar esses princípios, você descobrirá que o Sábado não é um fardo, mas um deleite, um sinal de lealdade e uma fonte de força. Ele treina seu coração a confiar em Deus não apenas um dia por semana, mas todos os dias e em todas as áreas da vida.


Apêndice 5f: Tecnologia e Entretenimento no Sábado

Esta página faz parte da série sobre o quarto mandamento: O Sábado:

  1. Apêndice 5a: O Sábado e o Dia de Ir à Igreja, Duas Coisas Diferentes
  2. Apêndice 5b: Como Guardar o Sábado nos Tempos Modernos
  3. Apêndice 5c : Aplicando os Princípios do Sábado na Vida Diária
  4. Apêndice 5d: Alimentação no Sábado — Orientação Prática
  5. Apêndice 5e: Transporte no Sábado
  6. Apêndice 5f: Tecnologia e Entretenimento no Sábado (Página atual).
  7. Apêndice 5g: Trabalho e o Sábado — Enfrentando os Desafios do Mundo Real

Por Que Tecnologia e Entretenimento Importam

A questão da tecnologia no Sábado está principalmente ligada ao entretenimento. Quando um cristão começa a guardar o Sábado, um dos primeiros desafios é decidir o que fazer com todo o tempo livre que naturalmente se abre. Aqueles que frequentam igrejas ou grupos que guardam o Sábado podem preencher parte desse tempo com atividades organizadas, mas mesmo eles acabam enfrentando momentos em que parece “não há nada para fazer”. Isso é especialmente verdadeiro para crianças, adolescentes e jovens adultos, mas até mesmo adultos mais velhos podem ter dificuldade com esse novo ritmo de tempo.

Outro motivo pelo qual a tecnologia é tão desafiadora é a pressão para permanecer conectado nos dias de hoje. O fluxo constante de notícias, mensagens e atualizações é um fenômeno recente, possibilitado pela internet e pela proliferação de dispositivos pessoais. Quebrar esse hábito exige disposição e esforço. Mas o Sábado oferece a oportunidade perfeita para isso — um convite semanal para desconectar-se das distrações digitais e reconectar-se com o Criador.

Esse princípio não se limita apenas ao Sábado; todos os dias um filho de Deus deve estar atento à armadilha da conexão e distração constantes. Os Salmos estão cheios de encorajamentos para meditar em Deus e em Sua Lei dia e noite (Salmo 1:2; Salmo 92:2; Salmo 119:97-99; Salmo 119:148), prometendo alegria, estabilidade e vida eterna para aqueles que o fazem. A diferença no sétimo dia é que o próprio Deus descansou e nos ordenou imitá-Lo (Êxodo 20:11) — fazendo deste o único dia a cada semana em que desconectar-se do mundo secular não é apenas útil, mas divinamente designado.

Assistir Esportes e Entretenimento Secular

O Sábado é separado como um tempo santo, e nossas mentes devem estar voltadas para coisas que reflitam essa santidade. Por esse motivo, assistir a esportes, filmes seculares ou séries de entretenimento não deve ser feito no Sábado. Esse tipo de conteúdo é desconectado do benefício espiritual que o dia deve trazer. As Escrituras nos chamam: “Sereis santos, porque eu sou santo” (Levítico 11:44–45; repetido em 1 Pedro 1:16), lembrando-nos de que santidade envolve separação do que é comum. O Sábado oferece uma oportunidade semanal para desviar nossa atenção das distrações do mundo e preenchê-lo com adoração, descanso, conversas edificantes e atividades que refrescam a alma e honram a Deus.

Praticar Esportes e Exercícios Físicos no Sábado

Assim como assistir a esportes seculares direciona nossa atenção para competição e entretenimento, participar ativamente de esportes ou rotinas de exercícios físicos no Sábado também tira o foco do descanso e da santidade. Ir à academia, treinar para metas atléticas ou jogar esportes pertence ao ritmo comum dos dias úteis do nosso trabalho e autoaperfeiçoamento. Na verdade, o exercício físico por sua própria natureza contrasta com o chamado do Sábado para cessar do esforço e abraçar o verdadeiro descanso. O Sábado nos convida a deixar de lado até mesmo nossas buscas pessoais por desempenho e disciplina para que possamos encontrar refrigério em Deus. Ao nos afastarmos de treinos, práticas ou partidas, honramos o dia como sagrado e abrimos espaço para renovação espiritual.

Atividades Físicas Compatíveis com o Sábado

Isso não significa que o Sábado deva ser passado em ambientes fechados ou na inatividade. Caminhadas leves e tranquilas ao ar livre, tempo sem pressa na natureza ou brincadeiras suaves com crianças podem ser uma forma bonita de honrar o dia. Atividades que restauram em vez de competir, que aprofundam relacionamentos em vez de distrair e que direcionam nossa atenção para a criação de Deus em vez das conquistas humanas, todas se harmonizam com o espírito de descanso e santidade do Sábado.

Boas Práticas para Tecnologia no Sábado

  • O ideal é que toda conexão desnecessária com o mundo secular pare durante o Sábado. Isso não significa que nos tornemos rígidos ou sem alegria, mas que nos afastemos deliberadamente do ruído digital para honrar o dia como santo.
  • As crianças não devem depender de dispositivos conectados à internet para preencher suas horas do Sábado. Em vez disso, incentive atividades físicas, livros ou mídias dedicadas a conteúdos santos e edificantes. É aqui que uma comunidade de cristãos é especialmente útil, pois oferece outras crianças para brincar e atividades saudáveis para compartilhar.
  • Os adolescentes devem ter maturidade suficiente para entender a diferença entre o Sábado e os outros dias no que se refere à tecnologia. Os pais podem guiá-los preparando atividades com antecedência e explicando o “porquê” dessas limitações.
  • O acesso a notícias e atualizações seculares deve ser eliminado no Sábado. Ver manchetes ou rolar redes sociais pode rapidamente trazer a mente de volta às preocupações dos dias de semana e quebrar a atmosfera de descanso e santidade.
  • Planeje com antecedência: baixe materiais necessários, imprima guias de estudo bíblico ou deixe conteúdo apropriado pronto antes do pôr do sol para não precisar procurar durante as horas do Sábado.
  • Coloque os dispositivos de lado: desligue notificações, use o modo avião ou coloque os aparelhos em uma cesta designada durante as horas do Sábado para sinalizar a mudança de foco.
  • O objetivo não é demonizar a tecnologia, mas usá-la de forma apropriada neste dia especial. Pergunte a si mesmo a mesma questão que introduzimos antes: “Isso é necessário hoje?” e “Isso me ajuda a descansar e honrar a Deus?” Com o tempo, praticar esses hábitos ajudará você e sua família a experimentar o Sábado como um deleite em vez de uma luta.

Apêndice 5e: Transporte no Sábado

Esta página faz parte da série sobre o quarto mandamento: O Sábado:

  1. Apêndice 5a: O Sábado e o Dia de Ir à Igreja, Duas Coisas Diferentes
  2. Apêndice 5b: Como Guardar o Sábado nos Tempos Modernos
  3. Apêndice 5c : Aplicando os Princípios do Sábado na Vida Diária
  4. Apêndice 5d: Alimentação no Sábado — Orientação Prática
  5. Apêndice 5e: Transporte no Sábado (Página atual).
  6. Apêndice 5f: Tecnologia e Entretenimento no Sábado
  7. Apêndice 5g: Trabalho e o Sábado — Enfrentando os Desafios do Mundo Real

No artigo anterior exploramos a alimentação no Sábado — como a preparação, o planejamento e a Regra da Necessidade podem transformar uma potencial fonte de estresse em um tempo de paz. Agora voltamo-nos para outra área da vida moderna onde esses mesmos princípios são urgentemente necessários: o transporte. No mundo de hoje, carros, ônibus, aviões e aplicativos de carona tornam as viagens fáceis e convenientes. Ainda assim, o quarto mandamento nos chama a pausar, planejar e cessar do trabalho comum. Entender como isso se aplica às viagens pode ajudar os cristãos a evitar trabalho desnecessário, proteger a santidade do dia e manter seu verdadeiro espírito de descanso.

Por que o Transporte Importa

O transporte não é um problema novo. Nos tempos antigos, viajar estava ligado ao trabalho — transportar mercadorias, cuidar de animais ou ir ao mercado. O judaísmo rabínico desenvolveu regras detalhadas sobre distâncias de viagem no Sábado, razão pela qual muitos judeus observantes historicamente moravam perto das sinagogas para poder caminhar até os cultos. Hoje, os cristãos enfrentam questões semelhantes sobre viajar para a igreja no Sábado, visitar familiares, participar de estudos bíblicos ou realizar atos de misericórdia, como visitas a hospitais ou prisões. Este artigo o ajudará a entender como os princípios bíblicos de preparação e necessidade se aplicam às viagens, permitindo que você tome decisões sábias e cheias de fé sobre quando e como viajar no Sábado.

O Sábado e a Frequência à Igreja

Uma das razões mais comuns pelas quais os cristãos viajam no Sábado é para participar dos cultos da igreja. Isso é compreensível — reunir-se com outros cristãos para adorar e estudar pode ser edificante. Ainda assim, é importante lembrar o que estabelecemos no artigo 5A desta série: ir à igreja no Sábado não não faz parte do quarto mandamento (Ler artigo). O mandamento é cessar do trabalho, guardar o dia santo e descansar. Nada no texto diz: “Irás a um culto” ou “Viajarás a um local específico de adoração” no Sábado.

O próprio Jesus frequentou a sinagoga no Sábado (Lucas 4:16), mas Ele nunca ensinou isso como um requisito para Seus seguidores. Sua prática mostra que reunir-se é permitido e pode ser benéfico, mas não estabelece uma regra ou ritual. O Sábado foi feito para o homem, e não o homem para o Sábado (Marcos 2:27), e seu núcleo é descanso e santidade, não viagem ou frequência a uma instituição.

Para os cristãos modernos, isso significa que frequentar uma igreja que guarda o Sábado é opcional, não obrigatório. Se você encontra alegria e crescimento espiritual ao se reunir com outros cristãos no sétimo dia, você é livre para fazê-lo. Se viajar até uma igreja gera estresse, quebra o ritmo do descanso ou o força a dirigir longas distâncias toda semana, você é igualmente livre para ficar em casa, estudar as Escrituras, orar e passar o dia com a família. O essencial é evitar transformar a viagem à igreja em uma rotina automática que comprometa o descanso e a santidade que você está buscando preservar.

Sempre que possível, planeje com antecedência para que se você for a um culto, isso exija o mínimo de viagem e preparação. Isso pode significar participar de uma congregação mais próxima, organizar um estudo bíblico em casa ou conectar-se com outros cristãos em horários fora do Sábado. Ao manter seu foco na santidade e no descanso, em vez da tradição ou expectativa, você alinha sua prática sabática com o mandamento de Deus em vez de exigências humanas.

Orientação Geral sobre Viagens

Os mesmos princípios do Dia de Preparação e da Regra da Necessidade aplicam-se diretamente ao transporte. Em geral, viagens no Sábado devem ser evitadas ou minimizadas, especialmente para longas distâncias. O quarto mandamento nos chama a parar nosso trabalho comum e permitir que outros sob nossa influência façam o mesmo. Quando transformamos em hábito viajar longe todo Sábado, corremos o risco de transformar o dia de descanso de Deus em mais um dia de estresse, fadiga e planejamento logístico.

Ao viajar longas distâncias, planeje com antecedência para que sua viagem seja concluída antes do início do Sábado e após o seu término. Por exemplo, se estiver visitando familiares que moram longe, tente chegar antes do pôr do sol de sexta-feira e partir após o pôr do sol de sábado. Isso cria uma atmosfera pacífica e evita correria ou preparativos de última hora. Se você sabe que precisará viajar por um motivo legítimo durante o Sábado, prepare seu veículo com antecedência — abasteça, faça manutenção e planeje a rota antes.

Ao mesmo tempo, as Escrituras mostram que atos de misericórdia são permitidos no Sábado (Mateus 12:11-12). Visitar alguém no hospital, consolar os enfermos ou ministrar aos encarcerados pode exigir viagens. Nesses casos, mantenha a viagem o mais simples possível, evite transformá-la em um passeio social e permaneça atento às horas sagradas do Sábado. Ao tratar as viagens como exceção e não regra, você preserva a santidade e o descanso do Sábado.

Veículos Pessoais vs. Transporte Público

Dirigindo Veículos Pessoais

Usar seu próprio carro ou motocicleta no Sábado não é inerentemente proibido. Na verdade, pode ser necessário para pequenas viagens para visitar a família, participar de um estudo bíblico ou realizar atos de misericórdia. No entanto, deve-se ter cautela. Dirigir sempre carrega o risco de panes ou acidentes que podem forçá-lo — ou outros — a realizar trabalhos que poderiam ter sido evitados. Além disso, abastecimento, manutenção e viagens longas aumentam o estresse e o trabalho típicos dos dias úteis. Sempre que possível, mantenha as viagens de veículo pessoal curtas, prepare seu carro com antecedência (combustível e manutenção) e planeje suas rotas para minimizar a interrupção das horas sagradas.

Táxis e Serviços de Carona

Por outro lado, serviços como Uber, Lyft e táxis envolvem contratar alguém para trabalhar exclusivamente para você no Sábado, o que viola a proibição do quarto mandamento de fazer outros trabalharem em seu favor (Êxodo 20:10). Isso é semelhante ao uso de serviços de entrega de comida. Mesmo que pareça um pequeno ou ocasional agrado, isso enfraquece o propósito do Sábado e envia sinais contraditórios sobre suas convicções. O padrão bíblico consistente é planejar com antecedência para não precisar colocar outra pessoa para trabalhar para você durante as horas sagradas.

Transporte Público

Ônibus, trens e balsas diferem de táxis e serviços de carona porque operam em horários fixos, independentes do seu uso. O uso do transporte público no Sábado pode, portanto, ser permitido, especialmente se permitir que você participe de uma reunião de cristãos ou realize um ato de misericórdia sem dirigir. Sempre que possível, compre passagens ou bilhetes com antecedência para evitar lidar com dinheiro no Sábado. Mantenha as viagens simples, evite paradas desnecessárias e mantenha uma mentalidade reverente enquanto viaja para preservar a santidade do dia.


Apêndice 5d: Alimentação no Sábado — Orientação Prática

Esta página faz parte da série sobre o quarto mandamento: O Sábado:

  1. Apêndice 5a: O Sábado e o Dia de Ir à Igreja, Duas Coisas Diferentes
  2. Apêndice 5b: Como Guardar o Sábado nos Tempos Modernos
  3. Apêndice 5c : Aplicando os Princípios do Sábado na Vida Diária
  4. Apêndice 5d: Alimentação no Sábado — Orientação Prática (Página atual).
  5. Apêndice 5e: Transporte no Sábado
  6. Apêndice 5f: Tecnologia e Entretenimento no Sábado
  7. Apêndice 5g: Trabalho e o Sábado — Enfrentando os Desafios do Mundo Real

No artigo anterior apresentamos dois hábitos orientadores para guardar o Sábado — preparar-se com antecedência e pausar para perguntar se algo é necessário — e vimos como viver o Sábado em um lar misto. Agora passamos para uma das primeiras áreas práticas onde esses princípios mais importam: alimentação.

Assim que o cristão decide guardar o Sábado, surgem perguntas sobre as refeições. Devo cozinhar? Posso usar meu forno ou micro-ondas? E quanto a sair para comer ou pedir comida? Como comer é uma parte rotineira da vida diária, é uma área onde a confusão se desenvolve rapidamente. Neste artigo, veremos o que as Escrituras dizem, como os israelitas antigos entenderiam isso e como esses princípios se traduzem para os tempos modernos.

Alimentação e o Sábado: Além do Fogo

O Foco Rabínico no Fogo

Entre todos os regulamentos sabáticos do judaísmo rabínico, a proibição de acender fogo em Êxodo 35:3 é uma regra-chave. Muitas autoridades judaicas ortodoxas proíbem acender ou apagar uma chama, operar aparelhos que geram calor ou usar dispositivos elétricos como acender a luz, apertar o botão do elevador ou ligar o telefone com base nessa passagem bíblica. Elas consideram essas atividades variações de acender fogo, proibindo-as assim no Sábado. Embora essas regras possam inicialmente parecer refletir um desejo de honrar a Deus, interpretações tão rigorosas podem prender as pessoas a regras humanas em vez de libertá-las para desfrutar o dia do Senhor. De fato, são exatamente esses tipos de ensinamentos que Jesus condenou severamente ao falar com os líderes religiosos, como em suas palavras: “Ai de vós, peritos na Lei, porque sobrecarregais os homens com fardos difíceis de carregar, mas vós mesmos nem com um dedo os tocais” (Lucas 11:46).

O 4º Mandamento: Trabalho vs. Descanso, Não Fogo

Por outro lado, Gênesis 2 e Êxodo 20 apresentam o Sábado como um dia para cessar do trabalho. Gênesis 2:2-3 mostra Deus cessando Sua obra criadora e santificando o sétimo dia. Êxodo 20:8-11 ordena a Israel lembrar do Sábado e não fazer nenhum trabalho. O foco não está nos meios (fogo, ferramentas ou animais), mas no ato de trabalhar. No mundo antigo, fazer fogo exigia um esforço considerável: juntar lenha, gerar faíscas e manter o calor. Moisés poderia ter mencionado outras tarefas trabalhosas para ilustrar o mesmo ponto, mas provavelmente usou o fogo porque era uma tentação comum trabalhar no sétimo dia (Números 15:32-36). O mandamento, no entanto, enfatiza parar o trabalho cotidiano, não proibir o uso do fogo em si. Em hebraico, שָׁבַת (shavat) significa “cessar” e este verbo está na raiz do nome שַׁבָּת (Shabbat).

Uma Abordagem de Bom Senso para a Alimentação

Visto por esse ângulo, o Sábado chama o cristão hoje a preparar os alimentos com antecedência e minimizar atividades cansativas durante suas horas sagradas. Cozinhar refeições elaboradas, preparar alimentos do zero ou envolver-se em outros trabalhos intensivos de cozinha deve ser feito antes, não no Sábado. No entanto, usar aparelhos modernos que envolvem mínimo esforço — como fogão, forno, micro-ondas ou liquidificador — é consistente com o espírito do Sábado quando usados para preparar uma refeição simples ou aquecer um prato pré-cozido. A questão não é apenas apertar um botão, mas usar a cozinha de modo que resulte em trabalho típico de dia de semana no santo Sábado, o qual deve ser dedicado principalmente ao descanso.

Comer Fora no Sábado

Um dos erros mais comuns entre os que guardam o Sábado hoje é sair para comer nesse dia. Embora possa parecer uma forma de descanso — afinal, você não está cozinhando — o quarto mandamento proíbe explicitamente fazer outros trabalharem em seu lugar: “Não farás nenhum trabalho, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu servo, nem tua serva, nem teu animal, nem o estrangeiro que está dentro das tuas portas” (Êxodo 20:10). Quando você come em um restaurante, obriga a equipe a cozinhar, servir, limpar e lidar com dinheiro, fazendo-os trabalhar por você no Sábado. Mesmo em viagens ou ocasiões especiais, essa prática enfraquece o propósito do dia. Planejar as refeições com antecedência e levar alimentos simples e prontos para comer garante que você possa se alimentar bem sem pedir a outros que trabalhem em seu lugar.

Usando Serviços de Entrega de Comida

O mesmo princípio se aplica aos serviços de entrega de comida como Uber Eats, DoorDash ou aplicativos similares. Embora a conveniência possa ser tentadora, especialmente se você estiver cansado ou viajando, fazer um pedido exige que outra pessoa compre, prepare, transporte e entregue comida à sua porta — tudo trabalho realizado em seu lugar durante as horas sagradas. Isso vai diretamente contra o espírito do Sábado e o mandamento de não fazer outros trabalharem para você. Uma abordagem melhor é planejar com antecedência: levar comida para sua viagem, preparar as refeições no dia anterior ou manter itens não perecíveis à mão para emergências. Ao fazer isso, você demonstra respeito tanto pelo mandamento de Deus quanto pela dignidade daqueles que, de outra forma, estariam trabalhando por você.