Apêndice 6: As Carnes Proibidas ao Cristão

NEM TODOS OS SERES VIVOS FORAM CRIADOS PARA SER ALIMENTO

O JARDIM DO ÉDEN: UMA DIETA À BASE DE PLANTAS

Essa verdade se torna evidente quando examinamos o início da humanidade no Jardim do Éden. Adão, o primeiro homem, recebeu a tarefa de cuidar de um jardim. Que tipo de jardim? O texto original hebraico não especifica, mas há evidências convincentes de que era um pomar:
“E o Senhor Deus plantou um jardim no Éden, ao oriente… E da terra fez o Senhor Deus brotar toda árvore agradável à vista e boa para alimento” (Gênesis 2:15).

Também lemos sobre o papel de Adão em nomear e cuidar dos animais, mas em nenhum lugar das Escrituras se sugere que eles eram “bons para alimento”, como as árvores.

O CONSUMO DE ANIMAIS NO PLANO DE DEUS

Isso não significa que comer carne seja proibido por Deus — se fosse, haveria uma instrução explícita nesse sentido em toda a Escritura. No entanto, isso nos mostra que o consumo de carne animal não fazia parte da dieta original da humanidade.

A provisão inicial de Deus para o homem parece ser inteiramente baseada em plantas, enfatizando frutas e outras formas de vegetação.

A DISTINÇÃO ENTRE ANIMAIS PUROS E IMPUROS

INTRODUZIDA NA ÉPOCA DE NOÉ

Embora Deus eventualmente tenha permitido aos seres humanos matar e comer animais, Ele estabeleceu distinções claras entre os que eram apropriados para consumo e os que não eram.

Essa distinção é sugerida pela primeira vez nas instruções dadas a Noé antes do dilúvio:
“Leve com você sete pares de cada espécie de animal puro, um macho e sua fêmea, e um par de cada espécie de animal impuro, um macho e sua fêmea” (Gênesis 7:2).

O CONHECIMENTO IMPLÍCITO SOBRE ANIMAIS PUROS

O fato de Deus não explicar a Noé como distinguir entre animais puros e impuros sugere que esse conhecimento já estava presente na humanidade, possivelmente desde a criação.

Essa diferenciação entre animais limpos e impuros reflete uma ordem e um propósito divino mais amplos, em que certas criaturas foram separadas para funções específicas dentro do equilíbrio natural e espiritual.

O SIGNIFICADO PRIMÁRIO DOS ANIMAIS PUROS

ASSOCIADOS AO SACRIFÍCIO

Com base no que ocorreu até o momento na narrativa de Gênesis, podemos assumir com segurança que, até o dilúvio, a distinção entre animais puros e impuros estava relacionada apenas à sua aceitação como sacrifícios.

A oferta de Abel, feita com os primogênitos de seu rebanho, destaca esse princípio. No texto hebraico, a expressão “primogênitos de seu rebanho” (מִבְּכֹרוֹת צֹאנוֹ) usa a palavra “rebanho” (tzon, צֹאן), que se refere tipicamente a pequenos animais domesticados, como ovelhas e cabras. Assim, é muito provável que Abel tenha oferecido um cordeiro ou um cabrito de seu rebanho (Gênesis 4:3-5).

OS SACRIFÍCIOS DE NOÉ COM ANIMAIS PUROS

Da mesma forma, quando Noé saiu da arca, ele construiu um altar e ofereceu holocaustos ao Senhor usando animais puros, que haviam sido mencionados especificamente nas instruções divinas antes do dilúvio (Gênesis 8:20; 7:2).

Esse foco inicial nos animais puros para sacrifício estabelece a base para entender seu papel único na adoração e na pureza da aliança.

Os termos hebraicos usados para descrever essas categorias — tahor (טָהוֹר) e tamei (טָמֵא) — não são arbitrários. Eles estão profundamente ligados aos conceitos de santidade e separação para o Senhor:

  • טָמֵא (Tamei)
    Significado: Impuro, contaminado.
    Uso: Refere-se à impureza ritual, moral ou física. Frequentemente associado a animais, objetos ou ações proibidas para consumo ou adoração.
    Exemplo: “Todavia, destes não comereis… são impuros (tamei) para vós” (Levítico 11:4).*
  • טָהוֹר (Tahor)
    Significado: Puro, limpo.
    Uso: Refere-se a animais, objetos ou pessoas adequadas para consumo, adoração ou atividades rituais.
    Exemplo: “Deveis fazer distinção entre o santo e o comum, e entre o impuro e o puro” (Levítico 10:10).*

Esses termos formam a base das leis dietéticas de Deus, que são detalhadas posteriormente em Levítico 11 e Deuteronômio 14. Esses capítulos listam explicitamente os animais considerados puros (permitidos para alimento) e impuros (proibidos para consumo), garantindo que o povo de Deus permaneça distinto e santo.

AS ADVERTÊNCIAS DE DEUS CONTRA O CONSUMO DE CARNES IMPURAS

Ao longo do Tanach (Antigo Testamento), Deus advertiu repetidamente Seu povo por violar Suas leis dietéticas. Vários trechos condenam especificamente o consumo de animais impuros, enfatizando que essa prática era vista como um ato de rebelião contra os mandamentos divinos:

“Um povo que continuamente Me provoca diante do Meu rosto… que come carne de porco, e em cujas panelas há caldo de carnes impuras” (Isaías 65:3-4).

“Aqueles que se consagram e se purificam para entrar nos jardins, seguindo aquele que come carne de porco, ratos e outras coisas impuras—eles encontrarão seu fim, juntamente com aquele que seguem,” declara o Senhor (Isaías 66:17).

Essas advertências demonstram que comer carne impura não era apenas uma questão dietética, mas um fracasso moral e espiritual. O ato de consumir tais alimentos estava ligado à desobediência direta às instruções de Deus. Ao se entregarem a práticas explicitamente proibidas, as pessoas demonstravam desrespeito pela santidade e pela obediência.

Uma antiga pintura de açougueiros preparando carne de acordo com as regras da Bíblia para drenar o sangue, ritual kosher.
Uma antiga pintura de açougueiros preparando carne de acordo com as regras da Bíblia para drenar o sangue de todos os animais limpos, aves e animais terrestres conforme descrito em Levítico 11.

JESUS E A CARNE IMPURA

Com a vinda de Jesus, o crescimento do cristianismo e os escritos do Novo Testamento, muitos começaram a questionar se Deus ainda se importava com a obediência às Suas leis, incluindo as regras sobre alimentos impuros. De fato, praticamente todo o mundo cristão hoje come qualquer coisa que deseja.

Entretanto, não existe nenhuma profecia no Antigo Testamento que diga que o Messias cancelaria a lei sobre carnes impuras ou qualquer outra lei de Seu Pai (como alguns argumentam). Jesus claramente obedeceu às ordenanças do Pai em tudo, inclusive nesse ponto. Se Jesus tivesse comido carne de porco, assim como sabemos que Ele comeu peixe (Lucas 24:41-43) e cordeiro (Mateus 26:17-30), teríamos um claro ensino pelo exemplo, mas sabemos que isso não aconteceu. Não há indicação de que Jesus e Seus discípulos desrespeitaram essas instruções dadas por Deus por meio dos profetas.

ARGUMENTOS REFUTADOS

FALSO ARGUMENTO: “Jesus declarou todos os alimentos puros”

A VERDADE:

Marcos 7:1-23 é frequentemente citado como prova de que Jesus aboliu as leis dietéticas sobre carnes impuras. No entanto, uma análise cuidadosa do texto revela que essa interpretação não tem fundamento. O versículo mais citado diz:
“‘Porque a comida não entra em seu coração, mas em seu estômago, e é expelida como dejeto.’ (Assim, ele declarou todos os alimentos puros)” (Marcos 7:19).

O CONTEXTO: NÃO SE TRATA DE CARNE PURA OU IMPURA

Primeiramente, o contexto dessa passagem não tem nada a ver com carnes puras e impuras, conforme estabelecido em Levítico 11. Em vez disso, trata-se de um debate entre Jesus e os fariseus sobre uma tradição judaica que não estava relacionada às leis dietéticas. Os fariseus e escribas perceberam que os discípulos de Jesus não realizavam a lavagem cerimonial das mãos antes de comer, conhecida em hebraico como netilat yadayim (נטילת ידיים). Esse ritual envolve lavar as mãos com uma bênção e ainda hoje é uma prática tradicional no judaísmo ortodoxo.

A preocupação dos fariseus não era sobre as leis alimentares de Deus, mas sobre a adesão a essa tradição humana. Eles viam o fato de os discípulos não realizarem o ritual como uma violação dos costumes, equiparando isso à impureza.

A RESPOSTA DE JESUS: O QUE IMPORTA É O CORAÇÃO

Jesus passa grande parte de Marcos 7 ensinando que o que realmente contamina uma pessoa não são práticas externas ou tradições, mas sim a condição do coração. Ele enfatiza que a impureza espiritual vem de dentro, dos pensamentos e ações pecaminosas, e não da não observância de rituais cerimoniais.

Quando Jesus explica que a comida não torna uma pessoa impura porque entra no sistema digestivo e não no coração, Ele não está falando das leis dietéticas, mas sim da tradição da lavagem das mãos. Seu foco está na pureza interna, e não em rituais externos.

UMA ANÁLISE MAIS PROFUNDA DE MARCOS 7:19

Marcos 7:19 é muitas vezes mal interpretado devido a uma nota entre parênteses inexistente no texto original que algumas versões da Bíblia inseriram, afirmando: “Assim, ele declarou todos os alimentos puros.” No texto grego, a frase real diz apenas:
“οτι ουκ εισπορευεται αυτου εις την καρδιαν αλλ εις την κοιλιαν και εις τον αφεδρωνα εκπορευεται καθαριζον παντα τα βρωματα,”
que traduzido literalmente significa:
“Porque não entra em seu coração, mas no ventre, e sai para a latrina, purificando todos os alimentos.”

Ler “sai para a latrina, purificando todos os alimentos” e traduzir como “com isso, ele declarou todos os alimentos puros” é uma tentativa grosseira de manipular o texto para se encaixar em um viés comum contra a Lei de Deus entre seminários e editores de Bíblias.

O que faz mais sentido é que Jesus está simplesmente descrevendo o processo digestivo em termos comuns da época. O sistema digestivo recebe os alimentos, extrai os nutrientes e componentes benéficos que o corpo precisa (a parte limpa) e depois expele o restante como dejeto. A frase “purificando todos os alimentos” provavelmente se refere a esse processo natural de separação dos nutrientes do que será descartado.

Portanto, não há nenhuma evidência no texto original de Marcos 7 que sugira que Jesus estava abolindo as leis sobre carnes impuras. Esse argumento é baseado em uma tradução tendenciosa e não em um ensino genuíno das Escrituras.

CONCLUSÃO SOBRE ESTE FALSO ARGUMENTO

Marcos 7:1-23 não trata da abolição das leis dietéticas de Deus, mas sim da rejeição das tradições humanas que priorizavam rituais externos em detrimento do coração. Jesus ensinou que a verdadeira impureza vem de dentro, e não da não observância da lavagem cerimonial das mãos. A alegação de que “Jesus declarou todos os alimentos puros” é uma má interpretação do texto, enraizada em preconceitos contra as leis eternas de Deus. Ao ler cuidadosamente o contexto e o idioma original, fica claro que Jesus manteve os ensinamentos da Torá e não rejeitou as leis alimentares dadas por Deus.

FALSO ARGUMENTO: “Em uma visão, Deus disse ao apóstolo Pedro que agora podemos comer a carne de qualquer animal”

A VERDADE:

Muitos citam a visão de Pedro em Atos 10 como prova de que Deus aboliu as leis dietéticas sobre animais impuros. No entanto, uma análise mais detalhada do contexto e do propósito da visão revela que ela não tinha nada a ver com mudar as regras sobre carne limpa e impura. Em vez disso, a visão foi um meio de ensinar a Pedro a aceitar os gentios no povo de Deus, e não de alterar as instruções alimentares dadas por Deus.

A VISÃO DE PEDRO E SEU PROPÓSITO

Em Atos 10, Pedro tem uma visão de um lençol descendo do céu, contendo diversos tipos de animais, tanto puros quanto impuros, acompanhada da ordem para “matar e comer”. A resposta imediata de Pedro deixa claro seu entendimento:

“De modo nenhum, Senhor! Nunca comi coisa alguma impura ou imunda” (Atos 10:14).

Essa reação é significativa por vários motivos:

  1. Pedro ainda obedecia às leis dietéticas
    Esta visão ocorre depois da ascensão de Jesus e do derramamento do Espírito Santo no Pentecostes. Se Jesus tivesse abolido as leis alimentares durante Seu ministério, Pedro, que era um de Seus discípulos mais próximos, saberia disso e não teria reagido com tanta resistência. O fato de Pedro recusar comer animais impuros demonstra que ele ainda observava as leis dietéticas e não tinha conhecimento de qualquer suposta revogação.
  2. O verdadeiro significado da visão
    A visão se repete três vezes, enfatizando sua importância, mas seu real significado é esclarecido alguns versículos depois, quando Pedro visita a casa de Cornélio, um gentio. O próprio Pedro explica o significado da visão:
    “Deus me mostrou que eu não devo chamar ninguém de impuro ou imundo” (Atos 10:28).A visão não era sobre comida, mas uma mensagem simbólica. Deus usou a imagem dos animais limpos e impuros para ensinar Pedro que as barreiras entre judeus e gentios estavam sendo removidas e que os gentios agora poderiam ser aceitos na comunidade da aliança de Deus.

INCONSISTÊNCIAS LÓGICAS COM A INTERPRETAÇÃO DE QUE “AS LEIS DIETÉTICAS FORAM ABOLIDAS”

A afirmação de que a visão de Pedro aboliu as leis alimentares ignora vários pontos críticos:

  1. A resistência inicial de Pedro
    Se as leis dietéticas já tivessem sido abolidas, a objeção de Pedro não faria sentido. Suas palavras refletem sua continuação na obediência a essas leis, mesmo após anos seguindo Jesus.
  2. Nenhuma evidência bíblica de abolição
    Em nenhum momento Atos 10 declara que as leis dietéticas foram abolidas. O foco é exclusivamente na inclusão dos gentios, e não em uma nova definição sobre o que é permitido ou proibido para consumo.
  3. O simbolismo da visão
    O propósito da visão se torna evidente na sua aplicação. Quando Pedro percebe que Deus não faz acepção de pessoas, mas aceita aqueles que O temem e praticam a justiça (Atos 10:34-35), fica claro que a visão tratava da inclusão dos gentios, e não da revogação das leis dietéticas.
  4. Contradições na interpretação cristã tradicional
    Se a visão fosse realmente sobre a abolição das leis alimentares, ela contraditaria todo o contexto do livro de Atos, onde os crentes judeus, incluindo Pedro, continuaram a observar a Torá. Além disso, a visão perderia seu significado simbólico se fosse interpretada literalmente, pois então trataria apenas das práticas alimentares e não da questão mais importante da inclusão dos gentios.

CONCLUSÃO SOBRE ESTE FALSO ARGUMENTO

A visão de Pedro em Atos 10 não tratava de comida, mas de pessoas. Deus usou a imagem de animais limpos e impuros para transmitir uma verdade espiritual mais profunda: que o evangelho era para todas as nações e que os gentios não deveriam mais ser considerados impuros ou excluídos do povo de Deus.

Interpretar essa visão como uma revogação das leis dietéticas é um erro grave que distorce tanto o contexto quanto o propósito da passagem.

As instruções dietéticas dadas por Deus em Levítico 11 permanecem inalteradas e nunca foram o foco dessa visão. As próprias ações e explicações de Pedro confirmam isso.

O verdadeiro significado da visão é sobre quebrar barreiras entre povos, e não alterar as leis eternas de Deus.

FALSO ARGUMENTO: “O Concílio de Jerusalém decidiu que os gentios poderiam comer qualquer coisa, desde que não fosse estrangulada e com sangue.”

A VERDADE:

O Concílio de Jerusalém é frequentemente mal interpretado para sugerir que os gentios receberam permissão para desconsiderar a maioria dos mandamentos de Deus e seguir apenas quatro requisitos básicos. No entanto, um exame mais atento revela que este concílio não tratava da abolição da Lei para os gentios, mas sim de facilitar sua entrada inicial nas comunidades messiânicas.

O QUE FOI O CONCÍLIO DE JERUSALÉM?

A questão principal discutida no concílio era se os gentios precisavam se comprometer integralmente com toda a Torá—incluindo a circuncisão—antes de ouvirem o evangelho e participarem das reuniões das primeiras congregações messiânicas.

Por séculos, a tradição judaica sustentava que um gentio deveria primeiro adotar todas as práticas da Torá—como a circuncisão, a guarda do sábado, as leis alimentares e outros mandamentos—antes que um judeu pudesse interagir livremente com ele (ver Mateus 10:5-6; João 4:9; Atos 10:28).

O concílio não estava decidindo quais leis os gentios deveriam ou não seguir, mas sim reconhecendo que eles poderiam começar sua jornada de fé sem adotar de imediato todas essas práticas.

QUATRO REQUISITOS INICIAIS PARA A HARMONIA

O concílio concluiu que os gentios poderiam frequentar as reuniões das congregações messiânicas, desde que evitassem quatro práticas específicas (Atos 15:20):

  1. Comida contaminada por ídolos – Evitar alimentos sacrificados a ídolos, pois a idolatria era profundamente ofensiva aos crentes judeus.
  2. Imoralidade sexual – Abster-se de pecados sexuais, que eram comuns entre os pagãos.
  3. Carne de animais estrangulados – Não consumir carne de animais que não foram abatidos corretamente, pois isso preservava o sangue.
  4. Sangue – Não ingerir sangue, uma prática proibida na Torá (Levítico 17:10-12).

Essas exigências não eram um resumo de todas as leis que os gentios deveriam seguir, mas um ponto de partida para garantir a paz e a unidade entre crentes judeus e gentios dentro das congregações.

O QUE ESSA DECISÃO NÃO SIGNIFICOU

A ideia de que esses quatro requisitos eram as únicas leis que os gentios precisavam obedecer é absurda.

  • Os gentios poderiam violar os Dez Mandamentos?
    • Poderiam adorar outros deuses, blasfemar contra Deus, roubar ou matar? Claro que não! Essa conclusão contradiz todas as Escrituras sobre a justiça de Deus.
  • O concílio estava dando um ponto de partida, não um ponto final.
    • A decisão abordava como os gentios poderiam começar sua jornada na fé, e não um conjunto definitivo de regras. Esperava-se que eles crescessem em conhecimento e obediência com o tempo.

ATOS 15:21 TRAZ A CHAVE PARA A QUESTÃO

O concílio não aboliu os mandamentos de Deus, e isso fica claro pelo que foi dito logo após a decisão:

“Porque Moisés [a Lei de Deus] tem em cada cidade, desde os tempos antigos, quem o pregue nas sinagogas, onde é lido todos os sábados.” (Atos 15:21)

Essa passagem demonstra que os gentios continuariam aprendendo a Torá ao frequentar as sinagogas. Os apóstolos nunca sugeriram que os mandamentos de Deus fossem descartados. Pelo contrário, esperava-se que os gentios aprendessem gradualmente a obedecer a Deus conforme ouvissem a Torá sendo ensinada.

CONTEXTO DOS ENSINAMENTOS DE JESUS

O próprio Jesus enfatizou a importância dos mandamentos de Deus.

Nos evangelhos, Ele ensina claramente que guardar os mandamentos faz parte da fé verdadeira:

  • “Se você quer entrar na vida, obedeça aos mandamentos.” (Mateus 19:17)
  • “Bem-aventurados aqueles que ouvem a palavra de Deus e a obedecem.” (Lucas 11:28)
  • Todo o Sermão da Montanha (Mateus 5-7) reforça a necessidade de obedecer a Deus.

Se Jesus nunca aboliu os mandamentos, os apóstolos também não poderiam ter feito isso.

CONCLUSÃO SOBRE ESTE FALSO ARGUMENTO

O Concílio de Jerusalém não decretou que os gentios poderiam comer qualquer coisa ou ignorar os mandamentos de Deus. Ele lidou com um problema prático: como os gentios poderiam começar a frequentar as congregações messiânicas sem serem sobrecarregados de imediato com todas as práticas da Torá.

As quatro exigências estabelecidas eram diretrizes iniciais para promover a harmonia entre crentes judeus e gentios em comunidades mistas.

A expectativa sempre foi que os gentios crescessem no conhecimento e na obediência com o tempo, pois a Torá continuava sendo ensinada todos os sábados.

Afirmar que Atos 15 permitiu que os gentios comessem qualquer coisa ou ignorassem os mandamentos é uma distorção da decisão do concílio e do ensino das Escrituras como um todo.

CONCLUSÃO SOBRE ESTE FALSO ARGUMENTO

A alegação de que “o apóstolo Paulo ensinou que Cristo cancelou a necessidade de obedecer às leis de Deus para a salvação” não tem base nas Escrituras que precederam Paulo. Não há profecias no Antigo Testamento que indiquem que Deus enviaria alguém após o Messias para anular Seus mandamentos.

FALSO ARGUMENTO: “O apóstolo Paulo ensinou que Cristo cancelou a necessidade de obedecer às leis de Deus para a salvação.”

A VERDADE:

A maioria dos líderes cristãos interpreta incorretamente os escritos de Paulo, afirmando que ele se opôs à Lei de Deus e ensinou aos gentios que obedecer aos mandamentos era desnecessário ou até perigoso para a salvação.

Essa ideia gerou uma enorme confusão teológica, pois contradiz não apenas os profetas, mas também as próprias palavras de Jesus.

Teólogos que rejeitam essa interpretação gastam tempo tentando harmonizar as cartas de Paulo com a obediência à Lei, argumentando que suas palavras foram mal compreendidas ou retiradas do contexto.

Porém, o problema central não está na interpretação das cartas de Paulo, mas na própria suposição de que devemos considerar sua autoridade para tratar dessa questão.

POR QUE EXPLICAR PAULO É O CAMINHO ERRADO?

Muitas pessoas tentam defender Paulo afirmando que ele não contradisse Jesus nem os profetas do Antigo Testamento. No entanto, o verdadeiro problema não é o que Paulo realmente quis dizer, mas se deveríamos considerar seus ensinamentos como determinantes nessa questão.

Dedicamos esforços para tentar “interpretar corretamente Paulo”, mas isso eleva um ser humano a um status igual ou maior que os profetas e até mesmo que o próprio Jesus.

O caminho correto não é tentar justificar Paulo, mas perguntar: As Escrituras antes de Paulo predisseram ou validaram a ideia de que alguém viria após Jesus para ensinar algo que anula as leis de Deus?

Se houvesse uma profecia clara de que um homem de Tarso seria enviado para modificar ou reinterpretar a Lei, então poderíamos considerar seus ensinamentos nesse sentido como autorizados por Deus. Porém, essa profecia não existe.

A AUSÊNCIA DE PROFECIAS SOBRE PAULO

As Escrituras contêm profecias claras sobre o Messias e sobre alguns indivíduos que apareceriam no Novo Testamento, mas Paulo não é um deles.

As únicas pessoas explicitamente mencionadas ou prefiguradas no Antigo Testamento que aparecem no Novo Testamento são:

  1. João Batista – O precursor do Messias foi profetizado e confirmado por Jesus (Isaías 40:3, Malaquias 4:5-6, Mateus 11:14).
  2. Judas Iscariotes – Algumas referências indiretas aparecem em Salmos 41:9 e Salmos 69:25.
  3. José de ArimateiaIsaías 53:9 faz uma alusão indireta ao homem que providenciaria o sepultamento de Jesus.

Além desses, nenhuma profecia menciona que Deus enviaria outra pessoa para ensinar algo novo após Jesus.

Se Paulo fosse realmente um mensageiro divinamente designado para alterar a Lei de Deus, Deus certamente teria dado uma profecia clara e inequívoca sobre ele antes da sua chegada.

Porém, não há qualquer menção de alguém de Tarso recebendo autoridade para modificar a Lei ou ensinar que a obediência a Deus não era mais necessária.

O QUE JESUS PROFETIZOU QUE ACONTECERIA APÓS SUA ASCENSÃO?

Jesus fez várias profecias sobre eventos futuros, incluindo:

  • A destruição do Templo (Mateus 24:2).
  • A perseguição aos Seus discípulos (João 15:20, Mateus 10:22).
  • A pregação do Reino a todas as nações (Mateus 24:14).

Contudo, em nenhum momento Jesus mencionou que Deus enviaria um novo mestre com autoridade para modificar Seus mandamentos.

Se a vinda de Paulo com um suposto “novo entendimento” fosse parte do plano de Deus, Jesus teria profetizado isso claramente, pois um evento dessa magnitude não poderia passar despercebido.

A ausência total de profecias sobre Paulo é prova suficiente de que ele não foi enviado para mudar nada no plano de Deus.

CONCLUSÃO

A crença de que Paulo ensinou que Cristo cancelou a necessidade de obedecer às leis de Deus para a salvação é um erro grave.

Não existe nenhuma profecia no Antigo Testamento ou nos Evangelhos que mencione que Deus enviaria um novo líder para modificar a Lei ou para ensinar que a obediência não era mais necessária.

Se Deus tivesse a intenção de mudar Seu plano após a ascensão de Jesus, Ele teria profetizado essa mudança com antecedência, como fez com João Batista e com o próprio Messias.

A verdade é simples: as Escrituras que precederam Paulo não validam seus ensinamentos sobre a Lei, porque nunca foi o plano de Deus cancelá-la.

O VERDADEIRO TESTE DOS ESCRITOS DE PAULO

Isso não significa que devemos rejeitar os escritos de Paulo, nem os de Pedro, João ou Tiago. Em vez disso, devemos abordá-los com cautela, garantindo que qualquer interpretação esteja em total harmonia com as Escrituras fundamentais: a Lei e os Profetas do Antigo Testamento e os ensinamentos de Jesus nos Evangelhos.

O problema não está nos escritos em si, mas sim nas interpretações que teólogos e líderes cristãos impuseram sobre eles.

Portanto, qualquer interpretação dos ensinamentos de Paulo deve ser submetida a dois critérios essenciais:

  1. O Antigo Testamento – A Lei de Deus revelada através de Seus profetas.
  2. Os Quatro Evangelhos – As palavras e ações de Jesus, que cumpriu e ensinou a Lei.

Se uma interpretação não estiver alinhada com esses critérios, então não pode ser aceita como verdade.

CONCLUSÃO SOBRE ESTE FALSO ARGUMENTO

A alegação de que Paulo ensinou o cancelamento das leis de Deus, incluindo as instruções alimentares, não encontra suporte nas Escrituras.

Não há nenhuma profecia que anuncie tal mensagem, e o próprio Jesus confirmou a validade da Lei.

Portanto, qualquer ensino que afirme o contrário deve ser examinado à luz da Palavra imutável de Deus.

Como seguidores do Messias, devemos buscar alinhamento com o que Deus já revelou, e não confiar em interpretações que contradizem Seus mandamentos eternos.

O ENSINO DE JESUS, POR PALAVRA E EXEMPLO

O verdadeiro discípulo de Cristo modela toda a sua vida Nele.

Jesus deixou claro que, se O amamos, obedeceremos ao Pai e ao Filho (João 14:15).

Essa não é uma exigência para os fracos, mas para aqueles que têm seus olhos fixos no Reino de Deus e que estão dispostos a fazer o que for necessário para herdar a vida eternamesmo que isso traga oposição da família, dos amigos e da igreja.

Os mandamentos sobre cabelos e barba, tzitzit, circuncisão, o sábado e as carnes proibidas são ignorados por quase toda a cristandade.

Os que se recusam a seguir a multidão enfrentarão perseguição, exatamente como Jesus nos advertiu (Mateus 5:10).

Mas a obediência a Deus exige coragem—e a recompensa é a eternidade.

Quatro cascos de diferentes animais, alguns fendidos e outros sólidos. Lei bíblica sobre animais limpos e impuros.
Quatro cascos de diferentes animais, alguns fendidos e outros sólidos, ilustram a lei bíblica sobre animais limpos e impuros de acordo com Levítico 11.

AS CARNES PROIBIDAS SEGUNDO A LEI DE DEUS

As leis dietéticas de Deus, estabelecidas na Torá, definem claramente quais animais Seu povo pode comer e quais devem ser evitados. Essas instruções enfatizam santidade, obediência e separação de práticas que contaminam.

Abaixo está uma lista detalhada das carnes proibidas, com referências bíblicas.

1. ANIMAIS TERRESTRES QUE NÃO RUMINAM OU NÃO POSSUEM CASCOS FENDIDOS

  • Para serem considerados puros, os animais terrestres precisam ter ambos os critérios: ruminar e ter cascos fendidos.
  • Exemplos de Animais Proibidos:
    • Camelo (gamal, גָּמָל) – Rumina, mas não tem cascos fendidos (Levítico 11:4).
    • Cavalo (sus, סוּס) – Não rumina e não tem cascos fendidos.
    • Porco (chazir, חֲזִיר) – Tem cascos fendidos, mas não rumina (Levítico 11:7).

2. CRIATURAS AQUÁTICAS SEM BARBATANAS E ESCAMAS

  • Apenas peixes que possuem barbatanas e escamas são permitidos.
  • Exemplos de Criaturas Proibidas:
    • Bagre – Não tem escamas.
    • Frutos do mar – Inclui camarão, caranguejo, lagosta e mariscos.
    • Enguias – Não têm barbatanas nem escamas.
    • Lulas e Polvos – Não têm barbatanas nem escamas (Levítico 11:9-12).

3. AVES DE RAPINA, NECRÓFAGAS E OUTRAS AVES PROIBIDAS

  • A lei especifica certas aves que não devem ser consumidas, geralmente aquelas associadas à predação ou ao consumo de carniça.
  • Exemplos de Aves Proibidas:
    • Águia (nesher, נֶשֶׁר) (Levítico 11:13).
    • Abutre (da’ah, דַּאָה) (Levítico 11:14).
    • Corvo (orev, עֹרֵב) (Levítico 11:15).
    • Mocho, falcão, corvo-marinho e outras aves listadas (Levítico 11:16-19).

4. INSETOS VOADORES QUE SE MOVEM SOBRE QUATRO PATAS

  • Em geral, insetos voadores são impuros, exceto aqueles que possuem patas articuladas para saltar.
  • Exemplos de Insetos Proibidos:
    • Moscas, mosquitos e besouros.
    • Exceção: Gafanhotos e certos tipos de locustas são permitidos (Levítico 11:20-23).

5. ANIMAIS QUE RASTEJAM SOBRE A TERRA

  • Qualquer criatura que se arrasta sobre o ventre ou tem múltiplas patas e rasteja no solo é impura.
  • Exemplos de Criaturas Proibidas:
    • Serpentes.
    • Lagartos.
    • Ratos e toupeiras (Levítico 11:29-30, 11:41-42).

6. ANIMAIS MORTOS OU EM DECOMPOSIÇÃO

  • Mesmo os animais puros não podem ser comidos se morreram naturalmente ou foram mortos por predadores.
  • Referências: Levítico 11:39-40, Êxodo 22:31.

7. CRUZAMENTO ENTRE ESPÉCIES

  • Embora não seja diretamente uma lei dietética, o cruzamento de espécies diferentes é proibido, o que implica a necessidade de cuidado com a produção alimentar.
  • Referência: Levítico 19:19.

O PROPÓSITO DESSAS LEIS

Essas instruções demonstram o desejo de Deus de que Seu povo seja distinto, honrando-O até mesmo nas escolhas alimentares.

Ao obedecer a essas leis, os seguidores do Senhor demonstram respeito e fidelidade aos Seus mandamentos sagrados.




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