Apêndice 2: A Circuncisão e o Cristão

Entre todos os santos mandamentos de Deus, se não me engano, a circuncisão é o único que praticamente todas as igrejas erroneamente consideram abolido. O consenso é tão grande que até mesmo antigos rivais doutrinários, como a igreja católica e as protestantes (pentecostal, adventista, batista, presbiteriana, congregação, etc.), incluindo as consideradas seitas, como os mórmons e os testemunhos de Jeová, todos defendem que este mandamento foi cancelado na cruz.

DUAS RAZÕES COMUMENTE USADAS PARA NÃO OBEDECER A ESTE MANDAMENTO DE DEUS

Existem duas razões principais para este entendimento ser tão popular entre os cristãos, apesar de Jesus nunca ter ensinado tal doutrina e de todos os apóstolos e discípulos de Jesus estarem em obediência a este mandamento, incluindo Paulo, cujos escritos os líderes usam para “liberar” os gentios dessa exigência do próprio Deus. Isso ocorre mesmo sem haver nenhuma profecia no Antigo Testamento sugerindo que, com a vinda do Messias, o povo de Deus, judeus ou gentios, estariam isentos de obedecer a este mandamento do Senhor. Ou seja, apesar da circuncisão sempre ter sido exigida, desde Abraão, para que o homem faça parte do povo que Deus separou para ser salvo, seja ele descendente de Abraão ou não.

Ninguém era admitido como parte da comunidade santa (separada dos outros povos) se não se submetesse à circuncisão. A circuncisão era o sinal físico da aliança entre Deus e o povo privilegiado. Novamente, este pacto não era limitado ao tempo ou aos descendentes biológicos de Abraão, mas também incluía todos os estrangeiros, para serem oficialmente incluídos na comunidade e serem considerados iguais perante Deus. O Senhor foi claro: “Isso se aplica não apenas aos membros de sua família, mas também aos servos nascidos em sua casa e aos servos estrangeiros que você comprou. Quer sejam nascidos em sua casa, quer os tenha comprado, todos devem ser circuncidados. Terão no corpo o sinal da minha aliança sem fim” (Gênesis 17:12-13).

Se os gentios realmente não precisassem deste sinal físico para se tornarem parte do povo separado pelo Senhor, não haveria motivo para Deus exigir a circuncisão antes da vinda do Messias, mas não depois. Para isso ser verdade, teria que haver tal informação nas profecias, e Jesus teria que nos informar que isso ocorreria após sua ascensão. No entanto, nenhuma menção no Antigo Testamento sobre a inclusão dos gentios no povo de Deus menciona que eles estariam isentos de qualquer mandamento, incluindo a circuncisão, apenas porque não eram descendentes biológicos de Abraão.

TODOS OS MANDAMENTO SE APLICAM AOS GENTIOS

Tanto os descendentes biológicos de Abraão quanto os gentios que se unirem ao povo de Deus terão que obedecer a todos os mandamentos, sem exceção: “A assembleia deverá ter as mesmas leis, que valerão tanto para vocês como para o estrangeiro (גר, ger) que vive entre vocês; este é um decreto perpétuo pelas suas gerações, que, perante o Senhor, valerá tanto para vocês quanto para o estrangeiro residente (גר). A mesma lei e ordenança se aplicará tanto a vocês como ao estrangeiro residente (גר)” (Números 15:15-16).

O ESTRANGEIRO RESIDENTE

(Todos os Gentios, no Passado e Presente, Que Querem Fazer Parte do Povo de Deus)

Este termo (גר, ger) se refere a um estrangeiro, um indivíduo não-judeu que vive permanentemente entre os israelitas e se compromete a seguir suas leis e práticas de fé no único e verdadeiro Deus. O “ger” era diferente de outros tipos de gentios em contato com Israel, pois ele se integrava na comunidade e adotava um estilo de vida idêntico ao dos israelitas, incluindo a observância das santas leis de Deus.

Outros tipos de estrangeiros incluíam:

  • Nokri (נכרי): Um estrangeiro que não tinha laços com a comunidade israelita e geralmente era visto como um visitante ou comerciante temporário. Eles não eram obrigados a seguir as leis de Israel, mas deviam respeitar algumas normas básicas enquanto estivessem no território.
  • Toshav (תושב): Este termo pode se referir a um residente temporário ou um imigrante que vivia entre os israelitas, mas que não se comprometia com a plena observância das leis religiosas de Israel. Embora eles pudessem viver por longos períodos no território, não tinham os mesmos direitos e deveres que os “gerim” (plural de “ger”).

O “ger” tinha um status especial, pois ao aceitar as leis de Deus, ele podia participar plenamente da vida religiosa e social da comunidade. Isso incluía a participação em sacrifícios e festividades.

A PRIMEIRA RAZÃO

A primeira razão pela qual as igrejas ensinam erroneamente que o mandamento da circuncisão foi cancelado — sem nunca mencionar quem o cancelou — reside na dificuldade de cumprir esse mandamento. Se os líderes aceitassem e ensinassem a verdade de que Deus nunca nos deu tal instrução, temem que perderiam muitos membros.

Em termos gerais, este é, de fato, um mandamento inconveniente de se cumprir. Sempre foi e continua sendo. Mesmo com os avanços médicos, o cristão que decidir cumprir este mandamento terá que procurar um profissional, pagar uma quantia do próprio bolso (geralmente planos de saúde não cobrem), passar pela cirurgia em si, lidar com as inconveniências pós-cirúrgicas, além do estigma associado, causando a oposição da família, amigos e igreja. O homem tem que estar realmente decidido a cumprir este mandamento do Senhor para ir adiante, caso contrário, ele facilmente desistirá. Incentivo para desistir não falta. Sei disso porque tive que passar por tudo isso aos 63 anos, quando fui circuncidado em obediência ao mandamento.

A SEGUNDA RAZÃO

A segunda razão, e certamente a principal, é que a igreja não possui o correto conceito de delegação ou autorização divina. Esta falta de entendimento foi explorada logo de início pelo diabo quando, poucas décadas após a ascensão de Jesus, começaram as disputas pelo poder entre os líderes das igrejas, culminando com a conclusão absurda de que Deus delegou a Pedro e a seus supostos sucessores a autoridade para fazer qualquer mudança que quisessem na Lei de Deus. Esta aberração não se limitou à circuncisão, mas a vários outros mandamentos contidos no Antigo Testamento que o próprio Jesus e os seus seguidores sempre obedeceram. Inspirada pelo diabo, a igreja desconsiderou que qualquer delegação de autoridade sobre a santa Lei de Deus teria que vir do próprio Deus, através dos seus profetas do Antigo Testamento ou através do seu Messias. É inconcebível que simples seres humanos deleguem a si mesmos autoridade para mudar algo tão precioso para Deus como a sua Lei.

O PECADO DE ACRESCENTAR OU RETIRAR DAS REVELAÇÕES DO ANTIGO TESTAMENTO

Nenhum profeta do Senhor e tampouco Jesus nos alertou que o Pai, após o Messias, daria a qualquer grupo ou ser humano, dentro ou fora da Bíblia, o poder ou a inspiração para anular, abolir, mudar ou atualizar sequer o menor dos seus mandamentos, muito pelo contrário, o Senhor foi claro que isso seria um pecado sério: “Nada acrescentem às palavras que eu lhes ordeno e delas nada retirem, mas obedeçam aos mandamentos do Senhor, o seu Deus, que eu lhes ordeno” (Deuteronômio 4:2). Outro ponto importante é a perda da individualidade no relacionamento entre a criatura e o seu Criador. A função da igreja nunca foi a de ser intermediária entre Deus e o homem, mas logo no início da era cristã ela assumiu esse papel. Em vez de cada convertido, guiado pelo Espírito Santo, se relacionar com o Pai e o Filho individualmente, todos começaram a depender totalmente dos seus líderes para lhes dizer o que o Senhor permite ou proíbe. Esse sério problema ocorreu em grande parte porque, até a Reforma do século XVI, o acesso às Escrituras era um privilégio eclesiástico, e era especificamente proibido que o homem comum lesse a Bíblia por si mesmo, sob a justificativa de que ele não tinha condições de entendê-la sem a interpretação do clérigo.

A INFLUÊNCIA DOS LÍDERES SOBRE O POVO

Cinco séculos se passaram, e apesar de agora todos terem acesso às Escrituras, o povo continua sendo guiado exclusivamente por aquilo que os seus líderes ensinam, certo ou errado, sendo incapazes de aprender e agir por si mesmos quanto ao que Deus exige de cada indivíduo. Os mesmos ensinos errados sobre os santos e eternos mandamentos de Deus que ocorriam antes da reforma continuam sendo transferidos de geração a geração pelos seminários de todas as denominações. Pelo que estou a par, não existe sequer uma entidade cristã que ensina aos futuros líderes o que Jesus ensinou, que nenhum mandamento de Deus perdeu a validade após a chegada do Messias: “Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um j ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra. Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus” (Mat 5:18-19).

A OBEDIÊNCIA PARCIAL DE ALGUMAS DENOMINAÇÕES

Algumas poucas igrejas realmente se empenham em ensinar que os mandamentos do Senhor são eternos e válidos para todos os tempos. Contudo, de maneira intrigante, essas mesmas igrejas tendem a limitar a lista de mandamentos que consideram obrigatórios. Geralmente, defendem com vigor os Dez Mandamentos (incluindo o sábado, referido no quarto mandamento) e as leis alimentares de Levítico 11, mas não vão além disso.

O mais curioso é que essas seleções específicas não são acompanhadas de nenhuma justificativa clara baseada no Antigo Testamento ou nos quatro Evangelhos que explique por que esses mandamentos em particular são obrigatórios, enquanto outros, como o uso do cabelo e da barba, o tzitzit ou a circuncisão, não são mencionados ou defendidos. Isso levanta a pergunta: se todos os mandamentos do Senhor são santos e justos, por que escolher obedecer a alguns e não a todos?

O PACTO ETERNO

A circuncisão é o pacto eterno entre Deus e o seu povo, um grupo de seres humanos santos, separados do resto da população. Este grupo sempre esteve aberto a todos e nunca houve um período em que fosse limitado aos descendentes biológicos de Abraão, como alguns imaginam. Desde que Deus estabeleceu Abraão como o primeiro deste grupo, o Senhor instituiu a circuncisão como um sinal visível e eterno do pacto. Ficou claro que tanto os seus descendentes naturais quanto aqueles que não são da sua semente teriam que possuir este sinal físico do pacto se quisessem fazer parte do seu povo.

AS CARTAS DO APÓSTOLO PAULO ESTÃO NA BÍBLIA E FAZEM PARTE DA FÉ CRISTÃ

Uma das primeiras tentativas de reunir os vários escritos que surgiram após a ascensão de Cristo foi feita por Marcião, um rico proprietário de frotas de barcos, no século II. Marcião era um fervoroso seguidor de Paulo, mas desprezava os judeus. Sua Bíblia consistia primariamente nos escritos de Paulo e de um evangelho próprio, que muitos consideram um plágio do evangelho de Lucas. Todos os outros evangelhos e epístolas ele considerava invenções sem inspiração divina. Na sua Bíblia, todas as menções ao Antigo Testamento foram removidas, pois ele entendia e ensinava que o Deus anterior a Jesus não era o mesmo Deus de Paulo.

O PRIMEIRO CÂNONE OFICIAL DA IGREJA CATÓLICA

O primeiro cânone do Novo Testamento foi oficialmente reconhecido no final do século IV, cerca de 350 anos após Jesus voltar para o Pai. Os concílios da Igreja Católica, com sede em Roma, Hipona (393) e Cartago (397), foram cruciais para a aceitação dos 27 livros do Novo Testamento que conhecemos hoje. Esses concílios ajudaram a consolidar o cânone em resposta às diversas interpretações e textos que circulavam nas comunidades cristãs.

OS BISPOS DE ROMA E A FORMAÇÃO DA BÍBLIA: A INCLUSÃO DAS CARTAS DE PAULO NO SÉCULO IV

As cartas de Paulo integram a coletânea de escritos aprovada por Roma no século IV. A coletânea considerada sagrada pela Igreja Católica era denominada Biblia Sacra em latim e Τὰ βιβλία τὰ ἅγια (ta biblia ta hagia) em grego. Após séculos de debates sobre quais escritos deveriam compor a coletânea oficial, os bispos da Igreja aprovaram e declararam como sagrados: o Antigo Testamento dos judeus, os quatro evangelhos, o livro de Atos, atribuído a Lucas, as cartas às igrejas, incluindo as de Paulo, e o Apocalipse de João.

É importante ressaltar que, nos dias de Jesus, todos os judeus, incluindo o próprio Jesus, liam e mencionavam exclusivamente o Antigo Testamento em seus ensinamentos. Essa prática era predominantemente baseada na versão grega do texto, conhecida como Septuaginta, que foi compilada cerca de três séculos antes de Cristo.

Os escritos de Paulo, assim como os de outros autores posteriores a Jesus, foram incorporados à Bíblia oficial aprovada pela Igreja há muitos séculos. Por isso, são considerados fundamentais para a fé cristã. No entanto, o problema não reside em Paulo, mas nas interpretações de seus textos. Sabemos que suas cartas foram redigidas em um estilo complexo e difícil de compreender. Essa dificuldade já era reconhecida na época em que foram escritas (como indicado em 2 Pedro 3:16), quando o contexto cultural e histórico ainda era familiar aos leitores originais. Imagine, então, interpretar esses textos séculos depois, em um contexto totalmente diferente.

A questão principal não é a relevância de seus escritos, mas o princípio fundamental de autoridade e sua transferência. Como já foi explicado, a autoridade que a Igreja atribui a Paulo para cancelar, abolir, corrigir ou atualizar os santos e eternos mandamentos de Deus não tem respaldo nas Escrituras que o precederam. Portanto, essa autoridade não é proveniente do Senhor. Não há nenhuma profecia no Antigo Testamento ou nos evangelhos que indique que, após o Messias, Deus enviaria um homem de Tarso a quem todos deveriam ouvir e seguir.

A NECESSIDADE DE ALINHAR AS INTERPRETAÇÕES DAS CARTAS COM O ANTIGO TESTAMENTO E OS EVANGELHOS

O que isso significa é que qualquer entendimento, ou interpretação do que ele escreveu, não está correto se não estiver alinhado com as revelações anteriores a ele. Portanto, o cristão que verdadeiramente teme a Deus e Sua Palavra, deverá descartar qualquer explicação das epístolas, seja de Paulo ou de qualquer outro escritor, que não esteja alinhada com o que o Senhor nos revelou por meio de Seus profetas no Antigo Testamento e por meio de Seu Messias, Jesus. O cristão deverá ter a sabedoria e a humildade para dizer: “Não entendo essa passagem e as explicações que li são falsas porque não possuem o respaldo dos profetas do Senhor e das palavras que saíram dos lábios de Jesus. Deixarei de lado até que um dia, se for da vontade do Senhor, Ele me explica.”

UM GRANDE TESTE PARA OS GENTIOS

Podemos considerar que esse talvez seja o teste mais significativo que o Senhor decidiu impor aos gentios, um teste análogo ao enfrentado pelo povo judeu durante sua jornada para Canaã. Como diz Deuteronômio 8:2: “Lembra-te de como o Senhor teu Deus te guiou pelo deserto durante quarenta anos, humilhando-te e pondo à prova o teu caráter, para ver se obedecerias ou não aos seus mandamentos“.

Nesse contexto, o Senhor procura identificar quais dos gentios estão realmente dispostos a se unir ao seu povo santo. Aqueles que decidem obedecer a todos os mandamentos, inclusive a circuncisão, mesmo diante da intensa pressão da igreja e apesar de várias passagens nas cartas às igrejas que aparentemente diz que vários mandamentos, descritos como eternos nos profetas e nos evangelhos, foram revogados para os gentios.

A CIRCUNCISÃO DA CARNE E A DO CORAÇÃO

É importante esclarecer que não existem duas formas de circuncisão, mas apenas uma: a física. Deveria ser evidente para todos que a expressão “circuncisão do coração”, usada em toda a Bíblia, é puramente figurativa, semelhante a “coração partido” ou “coração alegre”. Quando a Bíblia afirma que alguém não é circuncidado de coração, ela simplesmente está dizendo que a pessoa não está vivendo como deveria, caso realmente amasse a Deus e estivesse disposta a obedecê-lo. Ou seja, este homem pode ter sido fisicamente circuncidado, mas a maneira como vive não está em conformidade com o tipo de vida que Deus espera de seu povo.

Através do profeta Jeremias, Deus disse que todo Israel se encontrava em um estado de “incircuncisos de coração”: “Porque todas as nações são incircuncisas, e toda a casa de Israel é incircuncisa de coração” (Jeremias 9:26). Obviamente, todos eram circuncidados fisicamente, mas ao se afastarem de Deus, abandonando a sua santa Lei, eles foram reprovados porque não eram circuncidados também de coração.

Todos os filhos de Deus do sexo masculino, sejam judeus ou gentios, devem ser circuncidados, não apenas fisicamente, mas também de coração. Isso é evidenciado nestas palavras claras: “Portanto, assim diz o Senhor Soberano: Nenhum estrangeiro, nem mesmo aqueles que vivem entre o povo de Israel, entrará em meu santuário se não tiver sido circuncidado, de corpo e coração” (Ezequiel 44:9). Portanto, podemos concluir que:

  1. O conceito de circuncisão de coração sempre existiu e não foi introduzido no Novo Testamento para substituir a verdadeira circuncisão física.
  2. A circuncisão é exigida de todos que fazem parte do povo de Deus, sejam judeus ou gentios.

A CIRCUNCISÃO E O BATISMO NAS ÁGUAS

Alguns erroneamente imaginam que o batismo nas águas foi instituído para os cristãos como substituto da circuncisão. Evidentemente, essa afirmação é puramente uma invenção humana, uma tentativa de evitar a obediência ao mandamento do Senhor.

Se tal afirmação fosse verdadeira, deveríamos encontrar passagens nos profetas ou nos evangelhos indicando que, após a ascensão do Messias, Deus não mais exigiria a circuncisão dos gentios que desejassem fazer parte do Seu povo, e que o batismo tomaria o seu lugar. No entanto, tais passagens não existem. Além disso, é importante lembrar que o batismo nas águas já existia antes mesmo do surgimento do cristianismo. João Batista não foi o “inventor” ou o “pioneiro” do batismo.

O batismo, ou mikveh, ou Micvê (em hebraico מִקְוָה), era um ritual de imersão já comum entre os judeus muito antes da chegada de João. O mikveh simbolizava a purificação do pecado e da impureza ritual. Quando um gentio era circuncidado, ele também se submetia ao mikveh. Este ato não era apenas para purificação ritual, mas também simbolizava a morte – como ser “enterrado” na água – de sua antiga vida pagã. Ao emergir da água, semelhante ao líquido amniótico do útero, ele renascia para sua nova vida como judeu.

João Batista não estava criando um novo ritual. Em vez disso, ele estava dando um novo significado ao existente: em vez de apenas os gentios “morrerem” para suas vidas antigas e serem “ressuscitados” como judeus, os judeus que viviam em pecado também estavam “morrendo” e “renascendo” em um ato de arrependimento. No entanto, essa imersão não seria necessariamente a última vez que eles se submeteriam a esse ritual. Eles se imergiam sempre que se tornavam ritualmente impuros, por exemplo, antes de ir ao templo. Os judeus também costumavam – e ainda hoje o fazem – se submeter ao ritual de imersão no Yom Kippur como uma demonstração de arrependimento.


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